sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Esse ano o Natal chegou de surpresa!

Foi mais ou menos assim, pisquei o olho e ... Surpresa! É Natal! Como assim? Já? De novo?
É lugar comum dizer que o tempo está passando muito rápido. O fato é que está. Talvez seja culpa do ritmo frenético, da correria diária, da internet, das poucas horas de sono, de envelhecer, da rotação da terra, do super aquecimento, do buraco na camada de ozônio, da super população. Posso elaborar várias teorias, mas a verdade é que nenhuma delas vai parar o tempo. Esse não para mesmo.
E cadê o espírito natalino no meio de tudo isso? Chegou de surpresa e esqueceu de trazê-lo. Quando menos se espera, eis que surge, intacto, resplandecente ... o genuino espírito de Natal.
O Vini e a Bibi estão esperando o Papai Noel desde que acordaram, acho que é o ultimo ano que eles vão acreditar no bom velhinho e por isso mesmo estão agarrados a ideia do Papai Noel, acreditando com todo o coração. Tivemos que elaborar um plano de última hora, escrevi duas cartas, o Papai Noel não poderá subir no 9º andar, mas vai dar uma passada no térreo e de lá vai acenar, deixar os presentes e as cartas. 
Espero que isso seja suficiente para deixá-los felizes.
Terminei de escrever as cartas, disse brincando que havia psicografado, peguei uma castanha portuguesa quentinha, recém tirada da panela e o sabor do Natal me invadiu. Enfim, é Natal dentro de mim.

Desejo que no coração de cada pessoa, a criança que acredita em Papai Noel, espera por ele e se preocupa com a chuva no caminho possa despertar o verdadeiro espírito natalino em cada um.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A Magia da Bibi.

Muito calor. Céu estrelado. Onze horas da noite.
- Tia Nanda, não é que seria ótimo entrar na piscina agora?
Nos olhamos, eu e a Bibi. Demos as mãos. Tiramos os chinelos e com os pés experimentamos a água.
Nossos pés sorriram.

sábado, 6 de novembro de 2010

Eu tive um irmão gêmeo.

Eu tive um irmão gêmeo, ele faz aniversário hoje. Não, não fazemos aniversário no mesmo dia. Na verdade, não nascemos gêmeos, nos tornamos depois. Mais precisamente na adolescência, por força de algumas meias verdades em relação a sua idade, ele sempre gostou de mulher mais velha. Algum tempo depois, quando resolvi que não queria ficar mais velha, acabei assumindo de novo que éramos gêmeos. Atualmente, ele é mais velho que eu. Não somos mais gêmeos. Sou a caçula agora. Mas o motivo para esse post é celebrar o aniversário do meu irmão. Passamos muitas coisas juntos, desde que ele me seguiu até Curitiba. Rimos, bebemos, comemos, fizemos faxina, brigamos, conversamos, não conversamos, crescemos, estudamos, mentimos, viajamos e amadurecemos juntos. Quando olho para minha vida aqui em Curitiba, vejo sempre meu irmão ao meu lado. Devo confessar que sinto sua falta por aqui. Tenho pensado em segui-lo até Campo Grande.

(Querido, tá ai seu post, como prometido, irmão gêmeo como você eu nunca mais vou encontrar. Desejo toda felicidade do mundo para você e que nunca deixe de escutar seu coração)

sábado, 16 de outubro de 2010

Desembestando

Tenho achado a vida meio besta. Tipo, besta, sabe?
Passa uma semana, passa outra, passa o mês, o ano, muitos anos, passa a vida. E  eu? Eu ... corro, trabalho, escola, mercado, durmo, acordo, trabalho, como, bebo, corro, trabalho, escola, lição, futebol, corre, viajo, carnaval, corro, páscoa, natal.
Besta, assim, sabe?

Mas ai hoje eu estava conversando com um primo no msn e ele me disse:
- Se tá besta, desembesta, uai. Simples assim. Só depende de você.
Eu ri, poderia ser fácil ...

Algumas horas depois percebi que é fácil sim.
Podemos colocar no meio do corre-corre pequenas coisas que gostamos, mudanças sutis, prazeres, enfim, flores no dia-a-dia. Percebi que basta afinar o olhar. Hoje eu vi um ninho de quero-quero cheio de ovinhos, vi dois bebês engatinhando eufóricos no meio do shopping. Vi um casal triste que mal se falava, vi uma família feliz. Vi árvores no bosque que há tempos eu não via. Tomei café da manhã lendo. Comi bolo de laranja. Fiquei bem parada sentada no banco debaixo das árvores. Sentindo.

A "vida pode ser cheia de som e fúria" ... e acontecimentos sem sentido, mas nem é tão besta assim.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O nome do dedo.


Estava coversando com o Vini, o papo de repente rumou para os nomes dos dedos.
Ele olhou para a própria mão, levantou o dedinho e disse bem satisfeito:
- Esse é o meu dedo mendigo.
 (era o mindinho!)

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Tipos e tipos ...

Sabe aquele tipo de pessoa que entra em uma academia como se estivesse em casa? O tipo de pessoa que olha para uma aparelho de musculação e sabe exatamente o que fazer com ele? Sabe o nome do músculo que será trabalhado na repetição das séries. Sabe onde colocar a perna, o braço, como corrigir o peso, qual a postura correta. O tipo de pessoa que o aparelho de musculação não é um mistério. Esse tipo de pessoa ainda é capaz de ligar a esteira, escolher o programa, correr desvairadamente como se estivesse em uma ladeira do Pelourinho e ainda sorrir. Sabe o tipo de gente que faz alongamento, abdominal, pilates, spinning, body seiláoquê?
Pois eu, definitivamente, não sou esse tipo.
Infelizmente.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Elementar, meu caro

Welcome drink
-Agua de coco ou espumante?

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Lições



Eu e o Vini assistindo Wall -E.
- Porque deixaram ele na Terra se todo mundo foi embora?
- Acho que esqueceram ele, filho.
- Deve ser solitário ficar sozinho, mãe
- É, filho, deve mesmo.

Nos abraçamos no sofá.

domingo, 29 de agosto de 2010

Recortes

Na Bienal
Na fila esperando para entrar no Salão de Ideias. Logo atrás de nós, mãe e filha. A mãe falava com o marido no celular. A filha sorria sem parar olhando ao redor. Acho que tinha uns 14 anos. A mãe olhava para ela e dizia ao telefone: Você não vai acreditar! Ela até tirou fotos. Tirou foto com o livro gigante, com Monteiro Lobato... e continuou enumerando as fotos ... até que finalizou ... Acho que descobri o segredo para ela querer tirar fotos.
Olhei para menina, e sorri. Reconheci nela a adolescente que fui um dia.


No Museu da Língua Portuguesa
Domingo de manhã fomos ao Museu da Língua Portuguesa. Amo aquele lugar. Passeamos pelas palavras, aprendemos sobre a nossa língua, nos deliciamos com os neologismos do Guimarães Rosa. Até que chegou a hora de assistirmos ao filme de 10 minutos sobre as origens da língua portuguesa. Estavámos no auditório, na nossa frente um casal com a filha pequena. A menina estava sentada entre o pai e a mãe. O pai explicava para ela a próxima atração na Praça das Palavras. - Ali, filha, as palavras são projetadas no teto, nas paredes, são poesias ... A menina disse: - Ah! Pai, então foi por isso que você me trouxe aqui? Por causa das palavras. O pai olhou encantado para filha. Deu um beijinho na sua bochecha. - É, filha, porque agora você é uma menina das palavras!
Olhei para eles e sorri. Depois chorei.

Na Praça das Palavras
Aproveitei o escuro e chorei mais ainda no meio do céu estrelado de palavras.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Bienal do Livro de São Paulo. Eu Fui! Nós fomos!

     No Salão de Ideias, assistimos Moacyr Scliar, Ana Maria Machado e Contardo Caligaris falando sobre o AMOR.  Ana Maria e Moacyr estavam lançando o livro: Amor em Texto e Amor em Contexto. O livro fruto de ma conversa entre eles sobre o amor na vida e na literatura.
     Deve ser bom de ler, porque o bate papo entre os três com muitas risadas, reflexões, indicações de leitura e histórias pitorescas. Valeu!
     Moacyr começou contando sobre uma paixão da adolescência, uma paixão devastadora, que lhe tirou o sossego, o apetite e a inocência. Depois de muitas anos teve a oportunidade de rever esse amor em uma de suas viagens. Queria entender um  pouco mais daquele amor. Não chegou a conversar com a mulher, mas ao olhar para ela se questionou: Todo aquele amor por causa dela? (dela com desdém). Ele ri, todos riem. E Contardo conta sua história de amor. Também de uma amor devastador que depois de 35 anos teve a oportunidade de rever. Conta que chegou a procurar o telefone da tal mulher na lista telefônica, mas se deteve ao lembrar de um colega que vendia charutos cubanos em Genebra: Nunca acenda de novo um charuto que se apagou...
     E assim continuou a conversa, divertida e deliciosa. 

    Andar pelos corredores, apinhado de gente que gosta de ler, tem um sabor bom. Ouvir conversas de gente que gosta de ler, tem sabor melhor ainda. Andar pelos corredores, ouvir conversas e desfrutar desse mundo com a minha irmã (pela primeira vez) tem sabor inesquecível.


domingo, 15 de agosto de 2010

Prêmio São Paulo de Literatura e Nasce uma Estrela.

    Já contei aqui que no ano passado participei da Oficina de Romance do autor Raimundo Carrero durante a Bienal do Livro de Curitiba. No primeiro dia da oficina, Raimundo disse que seu novo livro A Minha Alma é Irmã de Deus estaria nas livrarias, recém lançado. Ele pediu licença e saiu para procurá-lo.
    Voltou logo, com um sorriso largo e o livro em mãos. Olhava para o livro com amor. Folheava as páginas com delicadeza, fazia um carinho discreto na capa.
    Levantou a cabeça, encarou os seus alunos e disse com voz embargada:
    - Vocês me desculpem, mas mesmo depois de tanto tempo, ter em mãos um livro recém lançado ainda me emociona.
     Lógico que me emocionei também.

    Semana passada li que o mesmo romance recebeu o Prêmio São Paulo de Literatura 2010, na categoria Melhor Livro do Ano. Enquanto lia a matéria no jornal sobre a premiação, me lembrei daquela manhã em que o livro recém nascido era admirado por seu pai. É sempre bom ver um filho trilhando um caminho bonito...

Meu livro premiado e autografado.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Que toquem os tambores...

Quanto eu tinha 15 anos inventei que queria se budista. Não me lembro o que me motivou, só sei que resolvi conhecer mais sobre a vida do Buda. Comprei um livro, acho que era uma espécie de biografia resumida e falava sobre os princípios do budismo. Veja bem, eu tinha 15 anos, era uma adolescente ... desisti de ser budista, mas guardei no coração o ensinamento sobre caminho do meio.
Depois de conhecer um pouco mais sobre o budismo, fiquei curiosa para saber mais sobre outras religiões, filosofias, doutrinas e etc. Li muitas coisas, aprendi algumas, relembrei outras e sobretudo, vivi muitas experiências boas. O caminho espiritual é algo muito importante na minha vida, busco respostas e faço perguntas o tempo todo.
Há algum tempo entendi que meu coração é essencial para minha busca espiritual. Ele sabe das coisas, e decidi ouvi-lo mais. Acho que por isso resolvi ter meu próprio tambor. Participei de uma Oficina de Tambor e fiz o meu instrumento. Só depois fui pesquisar um pouco sobre o tambor. É, coração sabe mesmo das coisas! Que toquem os tambores ...



O TAMBOR
O tambor é o instrumento musical mais antigo que se tem notícia no planeta terra e o seu toque faz despertar a nossa consciência ancestral coletiva, poderosos arquétipos adormecidos na nossa memória inconsciente, de milhares de anos atrás, quando estávamos conectados aos ciclos da terra, da lua, do sol e das estrelas. (do nosso coração!)
O SOM DO TAMBOR
existem várias batidas para o tambor, guerra, cura, etc. A batida de cura, faz o nosso coração entrar em uma ressonância magnética, em uma freqüência mais baixa, entre 8 e 9 ciclos por segundo, chamado de estado alfa, e é a mesma vibração da terra, chamada de Ressonância Schulmann, que é a vibração do “coração” da mãe terra. Neste estado saímos da freqüência cerebral beta, característica do hemisfério cerebral esquerdo, do mundo material, dos cinco sentidos físicos, para o hemisfério direito, feminino, intuitivo, holístico, e conectado ao todo da natureza. Esta vibração ativa o timo. O som ancestral do tambor também funciona como um chamado para as forças da quarta dimensão que estão sintonizados com estes processos naturais de cura.

fonte: http://frequenciasdeluz.com.br/

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A Cacau.


A Cacau foi uma excelente cachorra. Era brincalhona e aceitou muito bem a chegada do Vini em casa. Não me obedecia. Recebeu treinamento. Nunca fez nada do que foi treinada. Mas era nossa amiga. Gostava de carinho. Bastava a intenção de fazer carinho que ela já se deitava, largada no chão, entregue ao carinho. Foi uma excelente mãe. Cuidou muito bem dos 8 filhotes, mesmo quando eles ficaram impossíveis e não a deixavam em paz. Quando o Vini era pequeno ela teve paciência e deixou que ele a montasse, já maiorzinho ele gostava de tentar laça-la como um bezerro. Sempre suspeitei que a Cau tinha alma de vaca, e gostava de pastar. Ela gostava de jogar futebol com o Eduardo e com o Vini, apesar de monopolizar a bola. Gostava também de comer os ossos que o Vini levava e dormir de barriga para cima.
A Cacau fez a passagem no dia 24 de Julho de 2010, deixou saudades. Mas sabemos que ela está bem, no Céu dos Cachorros, brincando como ela sempre gostou de fazer.

domingo, 1 de agosto de 2010

O Homem Invisível

Cuidado com o que você pede.
As palavras têm poder mágico.
Você pode ser atendido.
E mesmo assim o homem pedia: quero ser invisível.
E de tanto pedir ele foi atendido.
Ninguém mais o viu, nem falou com ele, nem ouviu o que ele tinha a dizer.
O homem sumiu.
Pra sempre.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Abre parênteses ou colchetes...

Porteira
Sou uma pessoa urbana, gosto de cidade. De ar condicionado. De asfalto. De porta. Portão. Enfim, gosto das coisas da cidade.
Detesto inseto. Inseto que voa. Inseto que pula. Inseto que rasteja. Inseto que anda. Inseto que existe. Detesto. Mas sou filha de fazendeiro e sendo assim, vou à fazenda, às vezes.
O Vini ama fazenda, adora andar à cavalo. Anda no pasto no meio do gado. Coisa impossível para mim que sempre acho que tem uma vaca me olhando. Ele vai para fazenda com o avô.
Final de semana passado, fui para fazenda também. Como eu estava sentada na frente, ao lado do motorista, teria que abrir as porteiras.
Abri a primeira. Abri a segunda. Chegando na terceira o Vini diz:
- Eu só sei abrir porteira. Não sei abrir colchete.
- Filho, eu não sei nem o que é um colchete.
Ele riu de mim. Apontou o tal do colchete que já estava aberto.
Eu fiquei com cara de ... abre parêntese que eu vou explicar que sou urbana... adoro cidade ... e, veja bem, uso colchete quando escrevo.

Colchete

domingo, 18 de julho de 2010

Prece

“Deus de vez em quando me tira a poesia.
Olho para uma pedra e vejo uma pedra”
                                         Adélia Prado

As pessoas tem me cobrado que não escrevo mais. Eu me cobro, por que será que não escrevo mais? Ontem me lembrei do que Adélia Prado disse. Acho que é isso, ando carecendo de poesia.

Faço então uma prece

Deus, por favor,
me devolve a poesia,
me devolve a palavra
me devolve o sentido
queria olhar pedra e ver...

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Eu acredito em Fadas.

Vini contando que a Fada do Dente esteve lá em casa. A prima que tem a mesma idade (6 anos) comenta que não acredita mais em fada, é a mãe dela que coloca o dinheiro embaixo do travesseiro. 
Lá em casa a Fada do Dente ainda vai, afirmo. Ela ri, descrente.
No meu quarto sempre aparecem fadas. Ela responde que aquilo é reflexo de Sol.
Eu me sinto acuada e pergunto:
- Bibi, que graça tem essa vida se não acreditamos em Fadas?
- Ah, tia Nanda, eu não acredito em Fada, mas acho que tem muita graça!

domingo, 4 de julho de 2010

As Vuvuzelas, os bafanas, a Jabulani e a nudez de Maradona

A Seleção Brasileira volta para casa. Confesso que assisti, torci, gritei, vibrei pouco nessa Copa. Mas ouvi muito, porque é impossível não ouvir as vuvuzelas. Aprendi com elas, as vezes é necessário ter boca de vuvuzela para se fazer ouvida. A Copa da África vai ser sempre lembrada como a Copa do Barulho. Imagina que desespero assistir um jogo no estádio Soccer City com mais de 80.000 vuvuzelas. Uma aqui em casa já me enlouquece. O Vini ganhou uma vuvuzela original, sul africana, que vem com dicas de como fazer mais barulho. Como se fosse necessário. Acho que nesse quesito os bafanas vão longe.

Falando em bafana. Gosto do som das palavras em zulu, um dos dialetos sul africanos. Bafana, bafana, dá vontade de ficar falando: ba-fa-na. Adoro também jabulani. Ja-bu-la-ni. A bola pode ter sido criticada, mas a palavra tem gosto bom.

Mas o melhor de tudo nessa Copa foi que tivemos a oportunidade de NÃO ver o Maradona pelado.
E isso não tem preço.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Entendendo a vida.

Meu afilhadinho mais novo teve que fazer uma cirurgia. Era um problema congênito. Fiquei com os pais sentada na frente da porta do centro cirúrgico esperando. Espera difícil. O tempo parecia não passar. Eu falava sem parar tentando distrair os pais, mas na verdade eu  estava tão nervosa quanto eles.
Nessas horas as pessoas sempre ficam mais solidárias, afinal estão passando pela mesma dor, outras mães, pais, irmãos, tios e tias também esperavam notícias de suas crianças. Começamos a conversar.
Uma mãe esperava a filha prematura que estava fazendo uma cirurgia no coração, era um bebezinho. A outra mãe dormia sentada, cansada por dias e dias acompanhando o filho. Uma família esperava uma criança que estava fazendo uma cirurgia crânio-facial. Casos sério, complicados, de risco. Fiz uma prece pelas crianças e agradeci por estarmos lá por um motivo mais simples. Embora sério, não era uma cirurgia complicada. 
Meus olhos encheram de lágrimas quando a menininha que estava sendo operada do coração saiu. A cirurgia tinha sido um sucesso. A mãe chorava abraçada ao pai. 
As vezes precisamos da comparação para entender certas coisas.
Naquele momento, eu entendi.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

A vida como ela é ...

Acontecimentos recentes me fizerem duvidar da fé. Passei alguns dias questionando a vida. A vida como ela é não é uma coisa muito fácil, mas enfim, é a vida como ela é. Tentei entender por que isso aconteceu (tenho por principio não escrever sobre coisas ruins, acho que é uma forma de não propagar tristeza). É a minha mente que tudo quer saber, tudo quer entender. As vezes tenho que me render e me contentar em não ter uma resposta. Pelo menos não imediata. Geralmente quando algo nos acontece, imediatamente não conseguimos medir a dimensão daquilo. Precisamos de tempo, de espaço, ampliar a perspectiva. 
Atualmente acho que o câncer foi um presente, mas na época achei que era uma puta de uma sacanagem. Então, como eu disse, foi preciso tempo... Talvez nessa situação seja a mesma coisa. 

Desde ontem só consigo me lembrar de uma história que li sobre o Chico Xavier. Ele estava triste, irritado com as doenças que o incomodavam (a vida dele não foi nada fácil) e reclamava para o Emmanuel. Emmanuel então disse: Você queria o quê? Privilégios?

Acho que não preciso dizer mais nada. Afinal, é a vida como ela é. 

sábado, 19 de junho de 2010

Causa da Morte.

     Eu leio obituários.
     Não diariamente, mas de vez em quando meus olhos procuram no jornal o local em que eles costumam ficar. Algumas vezes leio inteiro, outras vejo a foto e procuro a causa da morte. Um dia a causa me fez rir, não riso de deboche, riso de alento. A pessoa em questão tinha morrido de queda. Isso mesmo: queda.
     Fiquei pensando no meu próprio obituário. Não quero morrer de causa óbvia: câncer, pneumonia, enfarte. Se eu pudesse escolher, escolheria algo mais inspirado.
     Queria morrer de assombro. Aquela sensação boa, que não se explica, se sente. 
     O deslumbramento diante da vida, quando algo bom acontece, vindo do nada. Quando se percebe que as consequências de algo poderiam ser terríveis e que não foram. Estamos bem, seguros, a salvo.
     Assombra  perceber que não estou só,  e nesses momentos tenho certeza que Alguém cuida de mim.
     Assombra a consciência dos pequenos milagres diários. Quando percebo, não como os olhos, mas com o coração, de que a vida é muito mais do que uma sucessão de dias, semanas, meses e anos. E quando isso acontece sou tomada por um arrebatamento, e nesse breve espaço de tempo, entendo que faz sentido. Que há um sentido nisso tudo.
    Talvez isso seja fé. 
    E fé assombra e arrebata. 

sábado, 12 de junho de 2010

Tipos de leitura, minha monografia e uma vela para Santo Antonio.

No ano passado fiz uma Oficina de Romance como o escritor Raimundo Carrerro na Bienal de Curitiba. Durante a oficina ele disse que existiam três tipo de leitura.
A primeira é a que se faz com os olhos, o leitor e seu livro, no ato da leitura.
A segunda é quando o leitor afasta o livro e de olhos fechados, pensa.
E a terceira é a leitura técnica.
Quanto as duas primeiras, como leitora, estou muito acostumada. Mas e a leitura técnica?
Imediatamente pensei que teria que reler tudo que eu já havia lido. E um desespero me invadiu. Nunca vou dar conta de ler tudo que eu quero ler e ainda vou ter que reler??

Resolvi estudar Literatura.

Além de leitora compulsiva agora também sou aluna especial da disciplina Literatura e Leitura do Mestrado de Letras da UFPR. Estou amando as aulas, acordo super cedo na segunda-feira e vou feliz para aula. Queria fazer só isso da vida: ler, estudar, ler mais um pouco e as vezes escrever  ...

Como nada é perfeito tenho que fazer uma monografia. Nunca fiz uma. Nunca. Na conclusão de meu curso de administração fiz estágio supervisionado, sem monografia. Na pós-gradução, também não fiz, o trabalho de conclusão foi a implantação de um projeto. Ou seja, não sei fazer. Soma-se a isso o fato de que esse universo é muito novo para mim.

Já mudei de tema doze vezes ... na segunda-feira tenho que apresentar uma proposta de tema, linhas gerais do que pretendo escrever ... e por enquanto só tenho a apresentar meu desespero.

Será que Santo Antonio, hoje é dia dele, não pode dar uma mãozinha para mim? Vou ali acender uma vela e rezar para ele, vai que ele me atende ... Amém! 

sábado, 5 de junho de 2010

Tradições familiares em um domingo festivo.

      Reuniões familiares servem para muitas coisas: pessoas se encontram, matam saudades, revivem dinâmica familiar, contam histórias, relembram tempos, contam mais histórias. E no caso da minha família, bebem e comem. 
      Costumo dizer que aprendi a beber em casa. Esse é um ritual importante na família, brindar à vida com boas bebidas.
      No último Natal bebemos juntos, cada um recebeu uma dose da Anisio Santiago (ex Havana), cachaça lendária da região de Salinas. Estávamos sentado ao redor da mesa, entardecia, ninguém acendeu a luz, pairava um silêncio respeitoso no ar. Fizemos um brinde sem palavras, apenas com a cabeça. E depois cada um voltou-se para sua dose de cachaça e deu um gole. Foi um ritual bonito.
      Mas o assunto hoje é outro. Além de bebidas, temos comidas familiares, tradições novas e antigas. Uma das mais antigas é um prato que meu pai aprendeu com o pai dele. Meu pai fazia para gente quando éramos pequenos no café da manhã de domingo. Geralmente domingos festivos.
      Hoje fazemos na manhã de Natal. Meu avô ensinou meu pai e ele provavelmente aprendeu com o pai dele (não sei se isso é verdade, nem vou verificar porque gosto de pensar que foi assim).
      Meus irmãos aprenderam com meu pai, eu não. Sou a única que não sabe fazer. E prefiro que fique assim. Espero as reuniões familiares para poder comer o viradinho.
      Aproveitei o feriado para visitar minha irmã e já encomendei meu viradinho antecipadamente. Domingo de manhã o menu estava definido. Acontece que hoje, sábado, resolvemos que amanhã vamos sair bem cedo para não pegar movimento na volta. Sei que é uma decisão sensata por isso não contestei ... mas estou aqui pensando em quando que vou comer meu viradinho ...


Receita do Viradinho   

Ingredientes
Farinha de milho
Queijo
Ovo
Açúcar

Modo de fazer
Não posso revelar, porque eu não sei.
Só sei que a receita tem segredos bem guardados.
O queijo precisa ser meia cura, e fatiado no sentido correto.
Cada ingrediente têm a hora e a quantidade certa para entrar na panela.

Modo de servir:
Sirva quente, em um domingo especial, com a família reunida.


p.s. estava aqui escrevendo e minha irmã entrou no quarto, aproveitei para checar os ingredientes. Ela disse que vai acordar amanhã às seis horas para fazer meu viradinho. Família é ou não é demais???

domingo, 30 de maio de 2010

Para a minha querida leitora de Rio Preto

     Gosto de ler jornal no domingo, sem pressa, enquanto tomo café. Coloco uma musiquinha, geralmente escolho Chico, gosto da companhia dele no café da manhã. Começo folheando o jornal, separo pela manchete as notícias que me interessam, reservo Faço isso no jornal inteiro, antes de ler. Hoje não consegui passar do segundo caderno.
      A matéria - Felicidade por Decreto - sobre uma proposta de emenda à constituição que quer garantir ao povo o direito de buscar a felicidade. Não aguentei seguir o método. Comecei a ler a matéria "O que buscamos é que os demais direitos sociais sejam resgatados. Atualmente, estão incluídos no artigo 6º o direito à educação, saúde, trabalho, moradia, lazer etc" *
      Fiquei imaginando a seguinte sentença: Fica garantido o direito a busca da felicidade. Bonito isso.
      Não vou entrar no mérito político, nem se é utopia ou não, mas o fato é que nem consegui terminar de ler. Fiquei pensando no tal direito de ser feliz e cheguei a conclusão de que mais que um direito, é um dever que todo mundo tem: buscar felicidade. Deveria ser proibido desperdiçar uma vida inteira sem ao menos buscar a tal felicidade.
      Eu sei que felicidade não é um conceito fixo para todos, o que me deixa feliz, pode não deixar o outro. Talvez essa busca pela felicidade deva estabelecer alguns passos preliminares: 1. O que me faz feliz? 2. Onde fica o que me faz feliz? (na maior parte das vezes não fica longe!) 3. Como faço para buscar isso? 4. Buscar isso. 5. Ser feliz
     Como penso muito, comecei a pensar pelo outro lado. Nesse mundo de pessoas realizadas, ser feliz virou um obrigação. E como virou uma obrigação deixou de ser feliz. Felicidade e obrigação não combinam. Ou combinam? Talvez, para alguns, sim. E isso é liberdade de escolha. Acredito em livre-arbítrio acima de tudo, por isso tenho que desdizer o que eu acabei de dizer.      
      Meu decreto seria assim: Fica garantido o direito e o dever de escolher se  quer, ou não, buscar a felicidade. Mas me agrada muito que esse direito seja assegurado pela constituição.
      É bonito e deixa feliz.

*Luciano Borges dos Santos, presidente da Anadef.

sábado, 22 de maio de 2010

Fobia de agulha, a vacina da Gripe H1N1 e suas implicações na vida familiar.

    Tenho medo de agulha, na verdade é uma fobia. Tomar injeção, tirar sangue, fazer acupuntura e mais recentemente, tomar vacina, não são atividades Top Ten para mim.
     Eu não consigo controlar, fico dizendo para mim mesma: eu não vou desmaiar, eu não vou desmaiar. E de repente tudo fica preto, meu corpo começa a formigar, o mundo desaparece... com o tempo aprendi o que tenho que fazer para não cair.
    Por um período, tive que fazer exame de sangue todo mês, já chegava e pedia para deitar, deitada não dá para cair. Acupuntura só faço a laser (sem agulha) e injeção não tomo.
    Mas com vacina da Gripe H1N1, o que eu que podia fazer? O jeito foi enrolar. Enrolei a campanha do Ministério da Saúde inteira. O Vini tomou com pai, porque os dois tem bronquite. Eu tenho fobia, e não tomei.
   Até que começou a Campanha Familiar, e nesse caso o Ministro Temporão (ministro da saúde da época) tem muito a aprender, marketing bem feito é familiar.
      Minha mãe ligou dizendo que todos já tinham tomado. Meu irmão gritou do fundo, eu já tomei. A minha irmã ligou. Meu pai mandou recado. Minha mãe ligou de novo e falou com o pai do Vini. Um complô estava se formando.
      E eu fingindo que não era comigo. Eu vou tomar na semana que vem. Mas acontece que semana que vem a campanha de vacinação do Temporão já teria acabado. E eu, insistindo, tomo na semana que vem. Ontem, último dia, na hora do almoço a campanha familiar se intensificou. Eu já desesperada disse que isso era besteira. O Vini perguntou:
      - Se é besteira, porque eu tomei?

      (fiquei muda)

      - Mãe, não é besteira, é importante.

      Tomei a vacina sem chorar, sem desmaiar, sem chiliques. Só pedi para sentar, porque cair no meio do posto de saúde era demais, até para mim.

(editada em 13/06/21)

sábado, 15 de maio de 2010

O português nosso de todo dia.

      Não sou uma pessoa observadora, sou capaz de ficar horas conversando com alguém e não saber que roupa esse alguém estava usando. Mas, algumas coisas me chamam atenção e para essas coisas sou chata, muito chata.
      Por exemplo: quem fala errado, tipo, não usa a concordância correta, desconhece plural. Pessoas que ´sobem para cima e descem para baixo´ me incomodam.
      Tive um conhecido que sempre dizia: -Mas, assim, eu vou ´se ferrar´. Acho que se ferrou mesmo, coitado. Corrigi tanto o Vini que agora ele fala: Mãe, eu vou MEEEEEE trocar.
      Já o ´eu vou estar agendando ou eu vou estar falando depois de estar agendando´ me divertem.
      O pior para mim ainda são as pessoas que não `tinham chego`. E se eu respondo, sendo bem simpática: Ah! Ela não tinha chegado. Geralmente as pessoas me olham com dó. Coitada, não sabe que está falando errado. Tenho que confessar que um dia falei ´chego´, só para não discordar do senso comum. Depois rezei três Aves-Marias e um Pai Nosso pedindo perdão.
      Mas entendo que o português é uma língua difícil, que todo mundo comete erros. E ao cometer um erro, faça como eu: eu vou estar rindo de si mesma, antes de ter chego,  só pra não se ferrá.
Deus me livre!

sábado, 8 de maio de 2010

A minha mãe e a mãe do Vini.


     
      Hoje teve festinha em comemoração ao Dia das Mães na escola do Vini. Lá pelas tantas, ele entediado pergunta: Quando é que vai acabar??? Eu, como homenageada do dia, tive que rir da sua sinceridade. Ele não queria cantar música nenhuma, nem dançar e muito menos ficar brincando comigo no ginásio da escola.
      Depois do ginásio fomos pra sala de aula. Lá tinha um painel com as fotos das mães e uma frase que o filho fez sozinho. Como eu estava procurando o meu, acabei lendo as frases das outras mães. Tinha lá: Mãe você é linda! Mãe, você é muito importante para mim! Mãe, você é muito legal. Achei a minha frase: Mãe, você é muito inteligente.
      Fiquei pensando na imagem que o Vini tem de mim ...
     
      Estávamos assistindo televisão, eu, o Vini e minha mãe.
      - Vini, o que você acha de dar uma flor pra vó de Dias das Mães
      Ele me olhou bem sério.
      - Mãe, não dá para levar a flor no avião.
      Assunto encerrado.

       Ontem briguei com a minha mãe. Acho que o lance de que filho nunca cresce deve ser verdade, ela acha que eu ainda tenho 15 anos. Até hoje quando eu lavo o cabelo à noite ela briga. Me manda sempre colocar casaco. Ainda fala que eu preciso usar batom para ficar mais coloridinha. E o mais engraçado é que ainda fica me comparando com a minha irmã. Bom, ontem, fiquei brava ... mas, no fim do dia, tive que aceitar que pelo menos em uma das coisas que ela falou tinha razão.
      É, vai ver que o lance de que filho nunca cresce e, de que mãe tem sempre razão, está certo mesmo.

      Ainda estou pensando ...

domingo, 2 de maio de 2010

As palavras em mim.

      Dia azul, calorzinho bom e as palavras aqui dentro, dançando em mim, dançando pra mim. Não consigo pegá-las, elas escapam, mas é uma dança bonita de ver. Já li o jornal, sentada no sofá, com os pés no sol. Sol gostoso. As minhas palavras encontraram-se com as palavras do jornal. Entrosaram-se tão bem, quando dei por mim, a dança era baile. Bom dia, bom dia, bom dia e mais palavras se juntaram ao baile que já acontecia em mim. E as palavras embaladas dançavam ao ritmo bom da voz da Maria Gadu ...me colha madura do pé ... dizia a música. E as palavras da música se juntaram as minhas palavras, às palavras do jornal e às palavras das outras pessoas e todas dançaram. Ali onde havia espaço, um salão tão grande que cabiam todas as palavras, que dançavam para mim, em mim ...

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Aprendizados.

     Há um ano vivemos uma situação bem difícil na família. Já passou 1 ano, o tempo passou rápido. Nesse caso ainda bem (!), que de situação ruim o melhor é ficar bem longe, mesmo que a distância se faça em dias, meses, anos.
     Desse tempo me lembro de sensações, de situações bem específicas, cenas tristes, e, finalmente, o final feliz. Da internação da minha irmã na UTI, a ida para o quarto e a ligação para ir buscá-la, pois tinha recebido alta.
     Aprendi muito com tudo isso, aprendi que basta piscar os olhos para tudo mudar e isso vale para TUDO. Nada é eterno, muito menos nós. Que devemos viver hoje, pois é no hoje que estamos. Nem no ontem, nem no amanhã. E que devemos, por gratidão, celebrar à vida. Eu celebro a vida da minha irmã, como celebro a minha, e de todas as pessoas que eu amo.
     Dizem que temos duas maneiras de aprender na vida, pelo amor ou pela dor. O que sei é que o amor, às vezes, também dói, mas é a melhor forma de aprender. Nós aprendemos, e continuamos aprendendo, todos os dias.

     Hoje mesmo aprendi uma importante lição, estava triste - coisas que não dependem de mim, mas que me afetam - meu pai citou uma brincadeira de infância para explicar as coisas da vida e eu acho que apesar da vida até ser como a brincadeira de Gata Parida*, aprendi que eu posso escolher diferente, pode-se levantar do banco, não empurrar, segurar apertado, sentar no colo, ficar quieta, pode-se agregar... e fazer as coisas da vida serem mais legais, humanas, amorosas ... 


*Entrevista com Ziraldo na Revista Brasília
Marcone Formiga – O que muda, então, na vida do homem quando chega aos 70?
Ziraldo – Bom... muda tudo, mas você vai percebendo aos poucos. Você quando era menino brincou de “gata parida”, não brincou?! (refere-se a uma brincadeira de meninos, onde sentavam num banco, e se espremiam, para ver quem caía do banco primeiro) Pois é; vou ser o último a sair da “gata parida”...

segunda-feira, 26 de abril de 2010

É o fim da cantada

Hoje no supermercado ouvi no sistema de som dicas de segurança:
- Se no estacinamento, um estranho chegar com um papo sedutor do seu lado, desconfie.
Não ouvi mais nada, fiquei pensando nos dias de hoje ... tristes dias ... aquele comercial do Impulse seria inviável, imagine: Se um estranho lhe oferecer flores ... desconfie.
Como eu ainda tenho fé no mundo tive vontade de pedir o microfone e falar: Se ao estacionar um estranho muito sedutor fizer a gentileza de abrir sua porta, não desconfie ...por favor.

terça-feira, 20 de abril de 2010

No Parquinho da Faculdade.

Segunda-feira de manhã, estava na aula. Estou fazendo uma matéria como aluna ouvinte no Mestrado de Letras. Estou amando as aulas, mas isso é assunto para outro post.
Então, estava na aula e no intervalo liguei para casa. Falei com a Maria e pedi para ela avisar o Vini que se ele quisesse falar comigo podia me ligar que eu estava no intervalo. Desligamos.

- Vini, sua mãe disse que está no recreio, se você quiser ligar para ela agora, pode.

O Vini começou a rir. Rir muito.Ficou rindo um tempão. A Maria me contou depois. Acho que ficou me imaginando brincando no parquinho, que é o que ele faz no recreio, e todo o repertório dele sobre o assunto se limita a lanchar e brincar no parquinho.

Quando eu cheguei em casa ele me perguntou muito sério.
- Mãe, o que você faz na hora do recreio?
- Eu fui tomar um café.
- Lá não tem parquinho?

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Eu quero ver o tempo passar ...

     Hoje ouvi uma pessoa dizendo bem satisfeita que faz tantas coisas, tem tantos afazeres que nem vê o tempo passar. Ela disse isso como se fosse uma vantagem.
     Fiquei pensando a respeito e percebi que eu quero ver o tempo passar. Quero ter a consciência de todo dia, mesmo com a velocidade vertiginosa que o tempo tem insistido em passar. Prefiro ter consciência do tempo.
     Sabe aquela sensação de vazio que costuma nos invadir na sexta-feira, no dia 30 ou no reveillon? Aquela sensação de olhar para trás e não saber o que fez com a semana, o mês ou o ano? Eu não quero essa sensação. Não quero que um ano inteiro passe sem que eu saiba o que fiz com ele, onde eu investi, o que eu vivi, curti, ri, chorei, dancei, viajei. Quero marcar bem a passagem do tempo. Sei que tem a parte de envelhecer, mas vou envelhecer de um jeito ou de outro, percebendo ou não percebendo, então prefiro saber o porquê de cada ruguinha, de cada marquinha.
     O tempo passa, o tempo voa ... e eu continuo numa boa....

domingo, 11 de abril de 2010

Das minhas esquisitices ..

Livros sempre foram para mim objetos sagrados. Nunca gostei de riscar, fazer anotações, marcar as páginas, aliás, cuido dos meus livros com ciúme obsessivo. E nem sou uma pessoa assim, nem ciumenta, nem obsessiva e muito menos organizada. Sendo a única exceção meus livros (com o Vini não conta!)
Meus livros estão organizados em ordem que só eu mesma entendo e que de vez em quando resolvo mudar. Autores brasileiros em ordem alfabética, autores latino-americanos sem ordem, autores que eu amo, autores que eu amo mais ainda.
Na prateleira de autores brasileiros, não consigo misturar Clarice Lispector com Paulo Coelho, simplesmente não consigo. Resolvo criar outra categoria: livros descompromissados, para se ler nas férias da Bahia, com areia e maresia, por exemplo.
Tem a prateleira dos livros intocáveis, fica no andar mais alto da estante, desses eu morro de ciúmes. Só meus dedos podem tocá-los. Ou dedos com a devida permissão.
De tempos em tempos reúno os livros que insistem em se espalhar pelos cômodos da casa e trago-os para a biblioteca, organizando-os de novo. E quando menos espero, lá estão os livros de novo pela casa. Acho que no fundo cômodo de casa sem livro não tem graça.
Mas, como tudo muda, percebi que riscar livros pode ser um grande barato, sublinhar meus trechos preferidos, dobrar as páginas para encontrar o que eu marquei mais facilmente, colocar notas no rodapé, no meio ou no alto das páginas. Um novo mundo se abriu para mim e comecei a reler os livros já lidos para ter o prazer de riscá-los, desvendando-os com novos olhos.
Já não me sinto uma herege ao fazer isso, me sinto mais integrada às palavras ... só não consegui ainda me desapegar, sou ciumenta, não gosto de emprestá-los ...
Eu sei, sou esquisita!!!

sábado, 10 de abril de 2010

Fantasmas e suas correntes

Ontem eu estava assistindo Scooby Doo com o Vini e ele me perguntou se aquele fantasma Pirata tinha morrido. Eu expliquei que só se transforma em fantasma quem já morreu, então, aquele Pirata com certeza já tinha morrido.
Ele continuou assistindo.
- Mãe, porque esse Pirata Fantasma que já morreu tem uma corrente na mão?
- Vai ver que ele morreu segurando a corrente.
- Mas, porque, mãe?

[Sei lá, porque, eu nem sei de onde saiu essa idéia de fantasma branco com corrente, como eu ia explicar isso para ele? Tive que ser sincera.]

- Filho, eu não sei. Vai ver que ele gostava da corrente ...
- Ah! Então, tá, mãe.

Assunto encerrado.
Quem me dera toda explicação fosse assim tão fácil, fui dormir pensando nos fantasmas e suas correntes.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

A morte e a vida

Fui a um enterro essa semana, e a morte sempre me faz pensar na vida. Enquanto assistia ao sepultamento, olhei distraída para a lápide que estava próxima aos meus pés, era de alguém que nasceu no mesmo ano que eu e que havia falecido com 25 anos. Pensei na brevidade da vida e na certeza da morte.
Porque será que insistimos em viver como se fôssemos eternos?
E no meio do cemitério alguns quero-queros voavam alheios a vida e a morte, só querendo. E eu em silêncio, fiz uma prece para querer também.

domingo, 4 de abril de 2010

A Páscoa não é mais a mesma.

      Nada como um feriado de Páscoa com crianças, muitas crianças, 13 para ser mais exata, com idades variadas, de 2 meses a 10 anos. Resolvemos antecipar o coelho para sábado a noite. É que as crianças andam muito espertas, já não acreditam em coelhos, fadas, Papai Noel, bicho papão. Achamos que o escuro da noite nos ajudaria a "enganá-las".
      Alguns adultos foram escalados para passear pela praia com elas, outros ficaram em casa preparando as pegadas e dois - os escolhidos - seriam os coelhos, com direito a fantasia peluda, com cabeção de coelho.  Eu fui para praia com as crianças.
      Tudo combinado, percurso das crianças minuciosamente definido, relógios sincronizados, plano muito bem elaborado. De repente surgem os coelhos na esquina, crianças enlouquecem, gritam no meio da rua e correm atrás dos coelhos, que correm também, afinal, eles não poderiam ser vistos de muito perto, mesmo com o cabeção de coelho. É que as crianças são espertas, não se deixam mais enganar.
      A cena foi muito engraçada. No fim deu tudo certo. Os coelhos sumiram na calada da noite e as crianças "enganadas" falavam ao mesmo tempo. Os adultos que elaboraram o plano estavam felizes por ter conseguido "enganar" as crianças.
      Até que um sobrinho de 3 anos (só três anos!) disse:
- Eu vi um pescoço de homem dentro da cabeça do coelho.

      É que as crianças andam muito espertas...


quinta-feira, 1 de abril de 2010

A Princesa



      A menina estava feliz. Era domingo de manhã e pela primeira vez ela iria ao zoológico da cidade. Acordou mais cedo do que de costume, queria ter tempo para se preparar, ela não sabia que aquilo tinha um nome, fez por ter vontade de fazer, quando crescesse talvez se lembrasse do ritual que precedeu o encontro com os animais.
      Procurou seu vestido mais bonito, branco, para contrastar com sua pele morena. Os cabelos já estavam trançados, mas ela queria enfeitá-los ainda mais e para isso escolheu fitas alaranjadas e amarelas. Finalmente pronta, olhou-se no espelho e suspirou – Pareço uma princesa.
      Seus pais levaram um susto ao vê-la arrumada tão cedo, mas não esconderam a satisfação, afinal a menina estava crescendo. Pai e mãe no seu íntimo pensaram sem dizer – Nossa menina parece uma princesa!
      E lá se foram, pais e menina princesa para a selva dos grandes animais. A menina parecia em transe, quase não falou no trajeto até o zoológico, e era longe a tal savana. Chegando lá a menina brilhava de satisfação, parecia realmente coroada.
      Foi perto das girafas que a menina não se conteve. As girafas alheias aos olhos além-cerca desfilavam majestosas, tamanha graça em tons laranja. A menina estava impressionada com as girafas que pareciam não se importar com aqueles cercados, nem com o espaço limitado em que se encontravam. E na menina reconheceram sua princesa de outros tempos, e para ela, só para ela, piscaram seus grandes olhos, olhos de girafa. E a menina soube que no fundo as girafas eram livres e seus corações não estavam ali delimitados, mas na imensidão da África.
      Duas lágrimas escorreram pela face corada da menina enquanto suas pequenas mãos aplaudiam, sob os olhares assustados das pessoas.

sábado, 27 de março de 2010

Em outro mundo.

Eu ia comprar um touro.
Me disseram para não comprar.
Perguntei o porquê.
- Porque a mãe dele é uma .... vaca!
E uma vaca de livro aberto.*

Veja bem!


nota explicativa:
Livro fechado quer dizer que o animal tem pai e mãe conhecidos.
Livro aberto é exatamente o contrário.
O diólogo é real (ou surreal).

quinta-feira, 25 de março de 2010

Lendas Familiares

       Desde que eu sou pequena ouço meu pai contar a história de uma vaca verde que mora na fazenda. É muito difícil de encontrá-la, ela se mimetiza com o pasto, só é possível achá-la na época da seca, quando o pasto deixa de ser verde.
        Com o tempo outras características da vaca foram reveladas. Ela tem oito patas. Isso mesmo, oito patas! Quando se cansa, cruza as quatro patas cansadas e usa as outras quatro. Meu pai contava e eu acreditava. Ouvi meu pai contando a mesma história pro meu filho e vi, incrédula, ele acreditando, como eu acreditei.
        O mais engraçado de toda a história era a pergunta final.
        - Adivinha que cor é o leite da vaca verde?
        Depois de tantas informações fantásticas, lógico que sempre arriscávamos cores diferentes, afinal não era uma vaca comum. Meu pai ria, e perguntava:
        - Que cor é o leite da vaca preta?
        - Branco, ué!
        - Porque da vaca verde haveria de ser diferente???
        - Boa pergunta!

terça-feira, 23 de março de 2010

O Fazedor de Bolhas

      Todos os dias, exatamente na mesma hora, ele parava o que estava fazendo, ia até o armário, pegava alguma coisa que eu não conseguia ver o que era e saia da sala. Não demorava muito para voltar com um sorriso no rosto. No dia seguinte o mesmo ritual. Eu fiquei curiosa, mas não quis perguntar. Um dia ele voltou comentando que era muito fácil deixar uma criança feliz. Levando-se em consideração que trabalhávamos em um hospital, achei o comentário no mínimo curioso. Fiquei ainda mais intrigada.
      Alguns dias depois ele me convidou para ir com ele. - Venha ver como é fácil fazer uma criança feliz.
      As crianças, naquele horário, estavam sempre reunidas no mesmo local no térreo, nós estávamos no andar logo acima em uma espécie de balcão que dava vista para elas. Ele de cima fazia bolhas de sabão que flutuavam até elas, as crianças sorriam tentado pegá-las. Poucas olhavam para ver de onde as bolhas estavam vindo, acho que para as crianças era como mágica. As bolhinhas apareciam do céu para alegrá-las.
       Fiquei encantada com a gentileza do gesto diário, mais encantada ainda em ver que ele tinha razão, bastava disposição e bolhas de sabão para fazer uma criança sorrir, mesmo dentro de um hospital.
       O fazedor de bolhas começou despretensiosamente com um trabalho fundamental. Ontem ao entrar na nova sala do setor no Hospital Pequeno Príncipe não pude deixar de me lembrar daqueles dias de bolha de sabão e me emocionar com o que vi. Ele sempre sonhou, mas nunca sonhou sozinho. Sai de lá com os olhos marejados.

"Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto, é realidade"

domingo, 21 de março de 2010

Ele e sua dama.

        
        Eu mal podia tirar meus olhos dele, por onde ia, lá iam meus olhos seguindo-o. Ele e sua dama deslizando pelo salão roubaram toda a cena. Mesmo cansado, não perdia a linha. Ele não era exatamente um modelo de beleza, cabelos brancos e ralos, barriga saliente, cinto e sapatos brancos combinando. Entre uma música e outra tirava do bolso da camisa um pente e ajeitava os cabelos, aproveitava para fechar o botão da camisa que insistia em abrir. Mesmo assim era de uma elegância única.
        Sorria o tempo todo enquanto dançava e não tirava os olhos da sua senhora que sorria de volta. Ele a conduzia, como só os senhores criados em outros tempos sabem fazer. Ela se deixava conduzir, como só as senhoras criadas em outros tempos são capazes de fazer. E a dança deles era tão harmoniosa que parecia que eles não faziam outra coisa na vida.
        Fiquei tão encantada que quase bati palmas. Tive vontade de ir falar com eles, tive vontade de dar parabéns e dizer que eu havia achado lindo eles dançando. Mas acabei não fazendo. Não bati palmas, não disse nada, além do meu olhar de admiração, nada fiz. Depois fiquei pensando que eles jamais saberão como me inspiraram, como me fizeram suspirar. Uma pena. Da próxima vez, quem sabe ...

sábado, 20 de março de 2010

O nosso QA de cada dia.

        Esses dias uma pessoa comentou sobre Quoeficiente de Adversidade, pelo que ela disse lidamos em média com 25 adversidades por dia. Quem sabe lidar melhor com as adversidades, ou com as frustrações, é melhor sucedido, consegue fazer o dia render e ser mais produtivo, ou seja, tem um QA alto.
        Fiquei pensando nisso... se são, em média, 16 horas que passamos acordados, temos que lidar com 1,5 adversidade por hora, se considerarmos que até dormindo lidamos com dificuldades (calor, pesadelos, pernilongos, travesseiro alto, cobertor que cai) a divisão fica ainda melhor, quase um probleminha a cada 60 minutos. Não me pareceu algo muito difícil de fazer.
        Lógico que isso depende do tamanho da adversidade, tem as bem grandes que uma só vale por 25 e tem também os dias que parecem que as dificuldades de um mês inteiro resolvem aparecer, 750 em um dia é coisa para ca.. ramba. Em um ano lidamos com mais de 9.000, por isso que temos a sensação que não fazemos outra coisa a não ser lidar com problemas, mas o fato é que fazemos sim, um milhão de outras coisas. Ainda bem!
         Um amigo me ensinou algo que tento usar na minha vida, é um pensamento simples, mas acho que se encaixa perfeitamente nesse lance de QA.

Se o problema tem solução, para que se preocupar?
Se não tem solução, para que se preocupar?


quinta-feira, 18 de março de 2010

Festival de Curitiba e as palavras que ficam.

        
         Essa semana eu fui à cerimônia de abertura do Festival de Curitiba na Ópera de Arame. O diretor do Festival, Leandro Knopfholz, falou sobre a primeira edição do Festival que aconteceu em março de 1992, ocasião em que a mesma Ópera de Arame foi inaugurada. A peça de abertura foi Sonho de Uma Noite de Verão de Shakespeare, na memorável montagem de Cacá Rosset. E eu estava lá.
         Foi uma das peças mais bonitas que eu já vi na minha vida. A Ópera de Arame ainda não estava totalmente terminada, só havia a estrutura de ferro sem os vidros, isso dava para a platéia a sensação de estar realmente no bosque Titânia, Oberon, Teseu e Hipólita, com elfos e fadas ao nosso redor.
          O discurso dele imediatamente me transportou para aquela noite de março, e de novo me senti no bosque de Shakespare. Me encanta a idéia de algo que foi escrito há mais de 400 anos ainda seja capaz de emocionar, tocar, transportar ... Por isso eu amo as palavras, através delas, pode-se ficar.

terça-feira, 16 de março de 2010

Aprendendo sempre.

        No meio de uma discussão disse para meu filho que eu sabia mais do que ele. E ele, em meio a lágrimas, me pediu desculpas e falou engasgado: - Tá certo, mãe, você sabe mais do que eu. E não devia ter "fazido" isso. Na hora me senti cheia de razão, achando que tinha ensinado uma lição importante para meu filho.
        Lógico que eu estava enganada. Eu não sei mais do que ele, nós só sabemos coisas diferentes. Como que eu posso fazer meu filho acreditar que eu sei mais que ele? Imediatamente as vozes começaram a surgir na minha cabeça, vozes antigas, frases ditas e repetidas tantas vezes que passamos a acreditar nelas. Não poderia fazer o mesmo com meu filho, porque seria a mesma coisa que mentir para ele.
        Fiquei pensando nas teorias psicológicas de como criar um filho e tantas idéias preconcebidas. No fim, cheguei à conclusão que a única coisa que sei é que criar filho não é uma tarefa fácil, requer intuição, tato e muita humildade para aprender sempre. Ainda não falei para ele que eu não sei mais que ele, mas vou falar.

Estava aqui escrevendo esse post quando ele me chamou.

- Mãe, vem aqui um pouquinho.
- O que foi filho?
- Você precisa vir aqui.
- Estou indo.
-Foi sem querer, mãe, foi sem querer...
- O que você fez?
- Só uma artinha...

[vivo aprendendo com ele ... por exemplo, a definição de arte]

sábado, 13 de março de 2010

Faz de conta e conta!

Algumas meninas gostam de boneca, de pular amarelinha e de brincar de faz de conta. Ela prefere as palavras. Adora dicionários – grandes e sabidos.
A mãe se preocupa:
- Menina, vá brincar lá fora!
Ela, tão nova, já sabe que existem livros pra sol e pra lua, livros pra dia e pra noite, até livros pra chuva. Conhece seus humores, sabores e amores.
Meticulosamente com o dedo indicador passeando por suas capas escolhe um. O livro brilha.
Ela grita:
- Pronto, mãe, já trouxe o sol pra dentro.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Abrindo as portas de casa

Escrever é algo sagrado pra mim e poder compartilhar as palavras é uma forma boa de estar no mundo e de fazer parte dele.
Esse é uma espaço para minhas idéias, para contar histórias, inventar teorias, compartilhar olhares, sabores, cores, dores, flores e amores.
É no meio das palavras que me acho toda vez que me perco e não consigo pensar em lugar melhor para me perder de novo. É também no meio das palavras onde me sinto mais em casa, mais feliz, mais eu mesma. E assumir isso é uma forma de atravessar a ponte em direção a pessoa que quero ser.
Obrigada pela visita, obrigada por compartilhar comigo esse dia.

Fernanda

quinta-feira, 4 de março de 2010

O Fino do Brega

Esse lance de raízes é um troço muito sério, não dá para negá-las, elas fazem parte de quem somos, do que há de mais genuíno na pessoa que nos tornamos. Minha raízes estão bem fincadas lá no Mato Grosso do Sul, e de alguma forma que só mesmo a genética explicaria, meu filho, que bem curitibano é, ama música sertaneja. Eu ouvindo Chico Buarque e ele cantando Victor e Leo. Mas de onde meu filho tirou esse gosto musical? De onde, meu Deus? Ultimamente basta fazer uma perguntinha básica pro Universo, que ele vem e esfrega a resposta na minha cara.
Bom, estava eu bem tranqüila no meu carro, quando de repente, sem nenhum aviso, eis que surge Chitãozinho e Chororó cantando Brincar de Ser Feliz.  Para o meu espanto, eu sabia a música  t.o.d.a e cantei bem alto, fazendo coro no refrão.
Me lembrei de umas férias de julho, século passado, íamos quase todos os dias à cachaçaria para tomar algumas Providências. Imagino que tenha sido fim de noite, depois de muitas Providências que eu aprendi a cantar como é que eu posso me livrar das garras desse amor gostoso ...
Se na época eu soubesse que isso resultaria em um DNA que seria transmitido para meu filho ... ah! se eu soubesse ... faria tudo de novo ...

terça-feira, 2 de março de 2010

O Batizado

Fevereiro de 1991
Começo das aulas na faculdade, eu tinha acabado de me mudar para Curitiba. Parei na porta da sala, não conhecia ninguém. Escolhi um cantinho no fundo, na minha frente estava sentado uma menina que parecia conhecer algumas pessoas. Pensei que deveria ser bom conhecer alguém no primeiro dia de aula. Até hoje acho que ela leu meus pensamentos, porque olhou para trás e disse oi, meu nome é Sil. Ficamos amigas na hora.

Fevereiro de 2010
Recebi o convite para ser madrinha do filho da minha primeira amiga de Curitiba. E além da minha amiga, agora eu tenho um grande amigo e compadre. E o afilhado mais lindo do mundo. Uma honra sem tamanho.

O Batizado
Não poderia ter sido mais perfeito. A igreja escolhida foi em Florianópolis, com uma maravilhosa vista para a lagoa. Ficamos hospedados na Hotel Butique Quinta das Videiras, do irmão do compadre. Lugar muito especial, cheia de mimos e super diferenciada. O hotel conservou as videiras originais, plantadas na década de 70, pelos antigos proprietários. A uva é deliciosa e ficar sentada debaixo da videira, jogando conversa fora é quase uma bênção. Vale a pena conhecer.


terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Nostalgia

Ando nostálgica, são pequenas lembranças que me fazem suspirar, estou relendo livros, revendo filmes, falando de memórias da infância. Talvez por tentar sentir coisas já sentidas, vontade de sentir o gosto que essas memórias deixaram em mim, acho colecionar memórias é a mais doce forma de nostalgia. Ando lembrando muito da minha casa, a casa que morei na infância e adolescência e de todas as suas árvores. Dos cajueiros que meu avô plantou que sempre foi para o meu pai uma forma de tê-lo por perto, mesmo quando ele se foi. A primeira Pitangueira que minha mãe trouxe da casa da minha bisavó, mãe de todas as outras pitangueiras - a neta ainda está na família, mora na sacada dos meus pais, no apartamento para onde eles se mudaram. Lembrei do meu pessegueiro que plantei com meu pai no dia que fiz quinze anos, uma tradição que começou com minha irmã. Meu Pessegueiro nunca foi muito feliz lá, faltava a ele uma companheira. Plantamos a companheira, a união deu um fruto, que foi enviado pelo correio para mim. Meu pai plantou um coqueiro anão, que em alguns anos se transformou em um gigante. E a limonada (hoje seria chamada de orgânica), cada dia com uma espécie de limão, tínhamos três espécies. Ah! a fruta do conde, doce feito mel... Percebo como a nostalgia pode ter gosto de salada de frutas ...

Minha casa tinha árvores,
Onde cantavam os sabiás;

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Escolha um caminho.

Sábado de manhã, meu carro na revisão. Chamei um táxi, expliquei onde queria ir.
- Você quer ir por qual caminho?
- O sr é o especialista.
-  É melhor você mesma escolher o caminho.
- Ah! Sei lá, eu nunca sei como chegar lá, sempre me perco, não tenho senso de direção, nem sei qual é direita e esquerda  .... e além do mais, esse lance de escolher caminho é sempre complicado para mim, aliás, escolher é mesmo complicado, e ainda mais um caminho, assim de bate pronto, sem ter pensado, ponderado, esmiuçado .... 
- Olha, pra facilitar, te dou duas opções e você escolhe uma. Pode ser?
- Eu prefiro que o Sr escolha.
- Mas, sabe como é, né? É melhor o passageiro escolher, porque se escolhe errado, não foi a gente que escolheu (!!!) - e emendou rápido - mas hoje o trânsito está bom ...
- Tá bom.
- Pode ser por aqui que é o caminho mais reto [olha ele me induzindo] ou por ali, que é pior ... Você que sabe.
- Acho que por aqui, então.
- Tem certeza???
-Não, não acho que por ali... ah! tanto faz, escolhe o Sr o caminho.
- Não, não vou escolher ...
-Tá, vamos por aqui e está decidido.

(Ele deu mil voltas, passou pelo centro em pleno sábado e eu pensando em como tinha sido induzida a escolher aquele caminho, mas um sr com cara tão boazinha, jamais faria isso deliberadamente, será? Fiquei com a sensação de que ele fez sim. Mas que papo é esse de escolha o caminho? ... Como assim? O profissional de caminho era ele ... Chegamos.)

-Tenha um bom dia e que seus caminhos sejam sempre tranquilos.
- Amém.

(o que mais eu poderia ter dito?)

domingo, 21 de fevereiro de 2010

O Bosque das Árvores Bravas


Era um bosque lindo, as copas das árvores ficavam tão unidas que só se via pequenos nuances de céu, azul, cinza, noite. Nesse bosque, quase encantado, havia espécies diferentes, eram as árvores bravas. Por três dias, passei por elas e nada disse, fiz uma pequena reverência com a cabeça, tive por elas um respeito imediato. Elas também nada disseram, limitaram a observar-me. No quarto dia, amanheceu nublado, o céu era cinza chumbo, havia no ar uma tensão, aquele tipo de tensão que precede a tempestade, como se tudo estivesse suspenso, esperando que a chuva chegasse. O silêncio pairava no ar como uma matéria densa. Passei pelas árvores em direção ao café da manhã, assim que entrei no restaurante a chuva chegou: forte, intensa, boa. E os pingos batiam nas janelas de vidro enquanto o Chico cantava ... “como hei de partir se na bagunça do seu coração meu sangue errou de veia e se perdeu ...” Meu Deus, de um bom gosto incrível! Aquela cena beirava ao mau gosto, Chuva e Chico deveriam ser proibidos ao mesmo tempo. O café da manhã foi longo, durou o tempo da chuva, a chuva que o Chico cantou. Ao sair do restaurante percebi que o silêncio se fora, a vida acontecia no Bosque das Árvores Bravas. A chuva veio e deixou uma espécie de benção no ar. Ao passar pela Pintangueira Brava ela me disse, na sua voz de árvore brava: - Escreva sobre nós, escreva para não esquecer, escreva para se lembrar, escreva.