quinta-feira, 1 de abril de 2010

A Princesa



      A menina estava feliz. Era domingo de manhã e pela primeira vez ela iria ao zoológico da cidade. Acordou mais cedo do que de costume, queria ter tempo para se preparar, ela não sabia que aquilo tinha um nome, fez por ter vontade de fazer, quando crescesse talvez se lembrasse do ritual que precedeu o encontro com os animais.
      Procurou seu vestido mais bonito, branco, para contrastar com sua pele morena. Os cabelos já estavam trançados, mas ela queria enfeitá-los ainda mais e para isso escolheu fitas alaranjadas e amarelas. Finalmente pronta, olhou-se no espelho e suspirou – Pareço uma princesa.
      Seus pais levaram um susto ao vê-la arrumada tão cedo, mas não esconderam a satisfação, afinal a menina estava crescendo. Pai e mãe no seu íntimo pensaram sem dizer – Nossa menina parece uma princesa!
      E lá se foram, pais e menina princesa para a selva dos grandes animais. A menina parecia em transe, quase não falou no trajeto até o zoológico, e era longe a tal savana. Chegando lá a menina brilhava de satisfação, parecia realmente coroada.
      Foi perto das girafas que a menina não se conteve. As girafas alheias aos olhos além-cerca desfilavam majestosas, tamanha graça em tons laranja. A menina estava impressionada com as girafas que pareciam não se importar com aqueles cercados, nem com o espaço limitado em que se encontravam. E na menina reconheceram sua princesa de outros tempos, e para ela, só para ela, piscaram seus grandes olhos, olhos de girafa. E a menina soube que no fundo as girafas eram livres e seus corações não estavam ali delimitados, mas na imensidão da África.
      Duas lágrimas escorreram pela face corada da menina enquanto suas pequenas mãos aplaudiam, sob os olhares assustados das pessoas.

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