domingo, 29 de março de 2020

Quem sairá dessa pandemia?


Olho ao redor e vejo um mundo dividido, as opiniões e convicções nos dividem. Nunca desejei tanto o caminho do meio pregado por Buda. Ou isolamento social, ou economia ativa. Ou carreata, ou panelaço. Ou discussão na rede social, ou bloqueio de quem pensa diferente. Será que há um jeito de manter as pessoas protegidas e a economia ativa? Talvez com diálogo, sim. Talvez com soluções criativas, sim. Talvez com uso de tecnologia, sim.

Eu sou otimista, acredito que é possível! Basta que os diferentes, se ouçam. Como aprendi há muito tempo, toda história tem no mínimo dois lados, e os dois lados podem estar certos ao mesmo tempo. Tudo depende do ponto de vista e do lugar que a pessoa ocupa.  Precisamos conversar mais e discutir menos. Uma história precisa de mais de um personagem para que seja escrita.   


No meio de tudo isso, tenho apenas uma certeza, ninguém sairá da pandemia do mesmo jeito que entrou. Algo irá mudar dentro e, com isso, as mudanças do lado de fora também irão aparecer. Impossível passar por uma crise, sem parar para pensar, sem refletir sobre a vida e, nesse caso, também sobre a morte. Apesar das estatísticas mostrarem que o grupo de risco são as pessoas mais velhas, alguns casos de óbitos de “jovens” aparecem no noticiário. Seriam os pontos fora da curva? Pelo jeito, então, existe a possibilidade de sermos também esse ponto.  Como não parar para refletir? E toda reflexão transforma.

Como escritora, acredito no poder da palavra, acredito que a palavra tem poder mágico que toca as pessoas e aciona algo dentro delas. Por isso sou apaixonada por histórias, inúmeras vezes chorei lendo um livro. Se a palavra tem o poder de fazer chorar, tem o poder de fazer rir, de emocionar e de curar. Escrevo para curar, não aos outros, mas a mim mesma.

Quando tive câncer, há muitos anos, busquei nos livros algumas respostas. Lembro especialmente do “Por um Fio, de Dráuzio Varella”. O que ficou para mim, após a leitura, foi uma grande reflexão que carrego até hoje: Porque as pessoas precisam saber que estão morrendo – ou podem morrer em breve -  para começar a viver? Em tempo de pandemia e projeções de números de mortos, como não pensar nisso? E me pego escrevendo uma lista de coisas que quero fazer quando tudo isso passar. Vai passar.

Não há para onde fugir. Então, o jeito é ficar e encarar com leveza, prontidão e bons pensamentos. Na última semana, me mantive em isolamento social, estou trabalhando em casa, trabalhando muito, mas em casa. Quando finalmente saio do computador, preciso me distrair, por isso fico procurando na televisão programas leves. Não quero ver noticiários.

Dias desses, achei uma reprise do Chapolin Colorado (me julguem!), quando as pessoas em perigo perguntam: “E, agora, quem poderá me defender? ” Ele aparece.  No nosso caso, não tem Chapolin, nem nenhum outro herói.  Mas, tenho uma resposta, por isso refaço a pergunta:

- E, agora, quem poderá nos salvar?  Nós mesmos. A humanidade irá salvar a humanidade.

E isso é lindo!!