terça-feira, 20 de agosto de 2013

Flores Raras. Horas raras.

Li na Folha de São Paulo. Gostei tanto do que o Contardo escreveu que fui ver Flores Raras. Que filme!!! Flores Raras é um filme raro. Daqueles que provocam silêncios longos. 
Ao final, ninguém se levantou. Os créditos rolando e as pessoas em silêncio, imóveis. Culpa da poesia, de toda forma de poesia, do Rio, da lua, do Pulitzer, da Arte de Perder... das flores raras.
Passei dezenas de vezes pelo Aterro do Flamengo no Rio, ficava no meu caminho para FGV. E nunca sequer imaginei a história por trás da obra. Do Aterro sabia tão pouco. Cultura de taxista - "Sabia que isso tudo - e apontava em direção aos jardins - já foi mar?" Sempre achei aquele um dos lugares mais bonitos do Rio. Agora acho ainda mais.
Entendi que, às vezes, é necessário uma vida, e não dias ou anos, para se terminar uma obra.
Sai do cinema me sentindo no Rio, naquela luz de final de tarde, tão linda. Acho que por isso foi um choque me perceber na fria e cinza Curitiba, que naquela tarde, até a luz estava p&b.

Vale ler: 
"É frequente que, num casamento, o cônjuge, por adorável que seja, apareça como alguém que limita nosso desejo -às vezes, ele, de fato, compete com nossa vida e domestica nossos sonhos. Esse não foi o caso de Elizabeth e Lota: cada uma potencializou o gênio da outra -essa é uma flor rara."

Vale ver:

domingo, 11 de agosto de 2013

Mais que mil palavras...

Acordei com vontade de escrever, passei a manhã procurando palavras, tentando alinhá-las, agrupá-las, organizá-las. Como já disse o poeta, lutar com palavras, é luta mais vã.
Desisti.
Mas ao desistir, entendi.
Entendi que há gestos que valem mais que mil palavras.
E há palavras que valem mais que qualquer luta vã.
Obrigada, meu filho.



terça-feira, 16 de julho de 2013

Do fundo do baú...





Sou apegada a memórias, gosto de guardar cartas, papéis, bilhetinhos, fotos, diários. Acho impossível jogar lembranças fora. Sou possessiva com todas as palavras escritas pra mim. Guardo tudo. Não consigo imaginar nada mais precioso para carregar comigo por anos e anos do que palavras.
Hoje revirei um baú que tenho há muito tempo, correspondência à moda antiga. Ri, chorei, me surpreendi, revivi sentimentos e situações, senti saudades de amigos que passaram.
Há alguns anos, em uma época que eu andava meio perdida, lembro de um conselho que recebi: olha lá atrás, visite a criança que você foi, veja o que era genuinamente seu e parta daí. Na época recorri aos meus diários da infância e adolescência. E se hoje estou escrevendo esse blog, devo a essa volta ao passado. Ainda tenho meus diários, talvez esteja na hora de recorrer a eles de novo... 
Acho que por isso o diário do meu avô me emocionou tanto, palavras escritas, palavras de amor, palavras que ficam pra sempre.

No dia 21 de janeiro de 1940, ele escreveu sobre minha avó:
Nina chegou e estivemos juntinhos durante muito tempo. É um anjo que tenho. À tarde fui com ela à fábrica de camas e voltamos de ônibus. Estive em casa de dona Antônia, e demos um passeio.  Amei a Nina como ninguém ama. Fui embora às 11:30 horas.

No dia seguinte – dia 22 - escreveu:
(...) Nina esteve em casa. Abracei e kiss.  Fui acompanhá-la até a estação. (...) Adeus minha querida. 


domingo, 14 de julho de 2013

Do livro, uma ideia. Ideia que rendeu bons frutos.

Foi algum professor do Rio que mencionou o livro "Arroz de Palma" do Francisco Azevedo, não me lembro em qual aula, mas me lembrei da capa quando vi o livro na Travessa. Foi amor às primeiras linhas. Comprei e não larguei até terminar de ler.
Livro delicioso, literalmente delicioso. Sou daquelas leitoras que degustam o livro, sinto sabor nas palavras. 
Esse livro em especial mexeu comigo, e me deu uma ideia
Mas nunca imaginei que a ideia fosse tão longe, nem que resultariam em frutos tão lindos.
O livro narra a saga de uma família de imigrantes portugueses no Brasil, assim como a minha família. O protagonista, Antonio, como meu pai. 
E a ideia foi tomando corpo.
Terminei de ler e emprestei o livro pro meu pai. Queria muito que ele lesse. 
A ideia esperando em silêncio ..." família é um prato difícil de preparar". 
Resolvi dar o livro de presente para uma tia, peça fundamental na ideia.
Um dia, vi meu pai comentando com a mesma tia que ganhou o livro ... o Vô Salgueiro faria 100 anos no ano que vem. 
A ideia sorriu. 
Uma reunião entre os irmãos começou a ser planejada. E os e-mails não pararam mais. Histórias do meu avô, lembranças, memórias, confissões. Baús foram mexidos, remexidos, fotos, diários, cartas. Surgiu a ideia do livro. Cada irmão, são seis, três meninas e três meninos, deveria escrever suas lembranças.
A ideia observava tudo de longe 
Li as histórias sobre o meu avô contada por diferentes personagens. Seis histórias diferentes. Seis olhares. Um milhão de emoções. Conheci um avô que eu não conhecia. Relembrei histórias, revi as fotos, li o diário do meu avô. Palavras que ele escreveu em 1940, aos 27 anos. Poderia ter sido escrito hoje. Chorei. 
E a ideia, feliz da vida.
O mais impressionante foi perceber como meu avô Salgueiro está presente na minha vida até hoje, mesmo tendo falecido há muito tempo. Percebo ensinando ao meu filho valores que meu pai aprendeu com o pai dele. Fiquei muito impressionada ao perceber que uma pessoa, uma única pessoa, pode influenciar todo uma família, geração após geração.
A ideia inicial foi só a semente. Que contou com várias outras ideias. Ideias que resultaram em um livro. Um livro que vai virar festa. 


Tenho certeza que a ideia nunca imaginou ver uma
cena tão linda. Meu filho e meu avô unidos pelas palavras.

"Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser profissional. Principalmente na hora que se decide meter a colher. Saber meter a colher é verdadeira arte. Uma grande amiga minha desandou a receita de toda a família, só porque meteu a colher na hora errada."
"Atenção também com os pesos e as medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto, é um verdadeiro desastre. Família é prato extremamente sensível." 
"Por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer. Se puder saborear, saboreie. Não ligue para etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro. Aproveite ao máximo. Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete."