domingo, 13 de março de 2022

Quando a doença vira verbo.


A pandemia transformou a doença em verbo. 

Eu covidei, tu covidates, o mundo covidou. 

Lembra quando estudamos que verbo é ação? Pois é, não para o Covid. 

Covidei e parei.  Não de imediato. Fiquei em casa Isolada, mas não parada. Nos primeiros dias, segui trabalhando, quis ignorar a presença do vírus, estava com sintomas leves, dor no corpo, dor de cabeça, cansadinha e com muita raiva. Os outros sintomas eram explicados pelo vírus, mas porque sentia raiva?


Mais de um mês depois do positivo, ainda não sei... acho que o covid me deixou lenta, de corpo e alma. 

No sétimo dia piorei, entrei na tal fase inflamatória, parecia uma sinusite, com otite, com labirintite, laringite, tosse e raiva.  Entendi que deveria dar tempo para meu corpo se recuperar, precisava descansar. Mandei uma mensagem para todos do trabalho avisando que ficaria off. Sabem o que isso significa no mundo de hoje? Senti orgulho de mim mesma. 

Finalmente parei. Depois de dois anos frenéticos, parei. O mesmo coronavírus que em janeiro de 2020 me fez acelerar como nunca, em janeiro de 2022, me fez parar. Dois lados da mesma doença.


Recebi muito carinho e cuidado. Recebi carinho de pessoas que nunca imaginei que receberia. E não recebi de outras que achei que receberia. Acho que o covid é assim, desperta o melhor de alguns e o pior de outros. Afinal, não se pode dar o que não se tem. 

O covid é uma doença contraditória até nisso. Te deixa isolada e sozinha quando você precisa do cuidado dos outros. E não tem jeito, tive que fazer por mim mesma. Impõe o autocuidado para a sobrevivência. Entrei em uma pira louca de manter tudo em ordem ao meu redor. Passei aspirador, lavei roupa, lavei louça por dias, até que cansada, desisti de manter a casa em ordem e fui cuidar dos estragos causados por dois anos de pandemia em mim.

Viver a pandemia “de dentro” de um hospital traz uma visão muito peculiar da situação. Em várias dimensões. Temos informações “privilegiadas”. O que muitas vezes não faz nada bem, pois a ignorância pode ser uma benção. Traz urgência e muita responsabilidade. Tínhamos que dar resposta a várias necessidades da organização. Percebo agora que minhas necessidades, foram ficando esquecidas no cantinho...

Lembro de início de tudo isso, reunidas no Marketing do Pequeno Príncipe, ainda sem saber de tudo que viria pela frente, ainda acreditando que passaria logo.  Preparando materiais, informações, hot site, cartazes, e-mails, para equipes da linha de frente. Para investidores, para familiares dos pacientes... Tantos protocolos, tanta insegurança, as pessoas ávidas por esclarecimentos. Ninguém tinha certeza de nada... vivíamos dias loucos.  

E no meio desses dias loucos, me perdi. Me perdi de mim mesma e do meu propósito. Desviei o rumo e apesar de ser útil e necessária no hospital, não fui para mim mesma.

Quando a pandemia começo, fui ingênua e acreditei que o mundo seria um lugar melhor, que as pessoas iriam entender o que é importante. Acreditei na evolução, na melhora coletiva. Como humanidade, sabe? Mas, como todos sabemos hoje, não foi bem assim ... há uma guerra para provar isso. Infelizmente.

Quando eu tive câncer, há muitos anos, parei, refleti, revi, mudei. Imaginei que as pessoas que passaram pelo covid, foram internadas, precisaram de oxigênio também repensariam suas vidas ... e se todos repensassem, mudaríamos. A pandemia, então, que trouxe tantas consequências para tudo e todos, poderia, enfim, fazer algum sentido. Não fez. 


Mas, acho que para mim, acabou fazendo. E talvez seja isso mesmo, pequenas mudanças de muitas pessoas que pode resultar em grandes mudanças. Acho que foi o Dalai Lama que disse: seja você a mudança que quer ver no mundo. Espero que eu consiga ser. 

Estou mudando, a raiva ainda está aqui, mas estou tentando usá-la a meu favor. Estou tratando pequenas sequelas no corpo e na alma. Tenho pressa para retomar o rumo, refazer o caminho, voltar para as coisas que me são caras. Mas estou lenta, tenho que respeitar meu corpo, equilibrar a pressa com o descansar. É isso, para descovidar é preciso tempo. Pra mim e para o Mundo.

domingo, 28 de fevereiro de 2021

Olhando para o futuro e aprendendo com o passado.



Essa não é a primeira pandemia que eu testemunho. Nem a sua. Você talvez não se lembre, muitas pessoas não lembram. Estou falando da Pandemia do H1N1 em 2009. Acho que em Curitiba foi pior. Além disso, eu já trabalhava no Hospital Pequeno Príncipe e uma pandemia decretada sempre tem impacto para profissionais ligados à saúde.

Trabalho no setor de Marketing e, em 2020, assim que foi decretada a Pandemia do Novo Coronavírus, o Pequeno Príncipe adotou muitas medidas de proteção e segurança: visitas aos pacientes e as atividades dos voluntários foram suspensas. Protocolos foram criados. Decretos adiaram cirurgias e consultas e muitas outras mudanças. Toda essa informação precisava chegar aos colaboradores, pais, médicos, enfim, toda sociedade.

Foi aí que lembramos da Pandemia de 2009. E buscamos nos arquivos do passado as referências do que havíamos feito. Achamos vários comunicados, cartazes, e-mails com explicações, datas, protocolos. Teve um cartaz em especial que me chamou atenção. Fiz questão de mostrar para as pessoas que estavam comigo na sala. E no meio daquele momento caótico e incerto, o cartaz nas minhas mãos trazia luz e esperança. Era necessário aprender com o passado. Sempre é. 

O comunicado dizia mais ou menos assim: Com a diminuição dos casos de H1N1, vamos retomar as seguintes atividades: e seguia a lista ...

Olhei a data do primeiro material que eu tinha em mãos, e olhei para data deste cartaz que me trazia esperança. Alguns meses os distanciavam. Mas, aquele cartaz era a prova concreta que a pandemia teve fim. E isso encheu meu coração de um sentimento bom. Era uma certeza, no meio de tantas incertezas. Aquele cartaz virou um símbolo para mim.

Nos meses que se passaram após aquilo. Nos momentos mais difíceis, nos dias que pareciam que não ter fim, eu me lembrava daquele cartaz - As atividades serão retomadas. Passou em 1918. Passou em 2009. E agora também vai passar. É preciso olhar para o futuro.

Sim, há muitas perdas, muitas mortes, muitas sequelas, muitas tristezas, mas também muitas vitórias, muitas superações, muitas alegrias, e sobretudo, muita esperança.

Vai passar é um mantra que repito todos os dias.


Sim! Vai passar! Mais cedo ou mais tarde, chegaremos ao fim dessa pandemia também. Está sendo muita mais longa e infinitamente mais difícil que em 2009. Mas ela chegará ao fim. As medidas de proteção ainda são necessárias.  Usar máscara não é o novo normal, mas o necessário. Higienizar as mãos nem deveria ser um cuidado do momento, deveria ser de sempre. O distanciamento social é o mais difícil e odiado, porém precisa ser adotado.

Desejo de todo coração, em breve, fazer de novo aquele cartaz: As atividades serão retomadas.  E se cada um fizer a sua parte, vai passar mais rápido!


O futuro está logo ali.
 
 


sábado, 11 de julho de 2020

Um papo sincero sobre essa p* toda!


Está confuso? Está confuso. Está demorado? Está demorado. A gente não sabe o que vai acontecer? A gente não sabe o que vai acontecer. Dá medo? Dá muito medo. Tem dia que fica mais difícil? Tem muitos dias difíceis. Mas vai passar? Vai!! Vai passar!
Vivemos tempos de muitas perguntas difíceis e poucas respostas originais. Tempos de dúvidas enormes e certezas bem pequenas. Mas, acho que são as certezas pequenas que nos enchem de esperança. Vai passar é uma delas e virou meu mantra, que repito várias vezes ao dia. Vai passar!
E enquanto essa p* toda não passa, não tem outro jeito, vamos vivendo um dia de cada vez. Tem dia que a gente chora, tem dia que ri, tem dia que bebe uma garrafa de vinho e no outro faz suco verde e dieta detox. E, no meio de tudo isso, podemos aprender algo novo, assistir mil lives e ouvir podcast. Pode-se também desconectar, ler um livro e fazer jardinagem (já matei uma muda de hortelã e outra de alecrim, mas não vou desistir). Queria ter habilidades manuais, um hobby como amigurumi, mas, por enquanto vou ficar apenas com as palavras e algumas mudas de temperos.
Tenho focado em ser uma pessoa melhor, pelo menos essa p* toda pode servir para algumas mudanças importantes. Dizem que a recompensa da paciência é a própria paciência, faz sentido.  
Enquanto essa p* toda não passa, eu te conto da minha janela – como pede a música bonitinha da AnaVitoria, que termina assim: “Eu fiz essa canção, amigo. Pro mundo inteiro se curar!”
Que assim seja!

*Onde está P*, leia-se Pandemia.

sábado, 4 de julho de 2020

O que faz sentido para você?



A vida segue seu curso. A natureza não sabe que a gente parou. Ela segue alheia ao nosso isolamento, quarentena, afastamento social. A vida simplesmente segue. O outono chegou, as folhas caíram, o inverno veio, os dias esfriaram, as noites cresceram, tudo seguiu como se não houvesse pandemia. E para natureza realmente não há.
Não sei para você, mas a pandemia já me ensinou um monte de coisas. Revi minhas prioridades, se tudo pode mudar de uma hora para outra - como devidamente demonstrado - porque ainda fazer certas coisas sem sentido? A família faz sentido, ter tempo para cuidar da saúde faz sentido, valorizar pequenos prazeres do dia a dia faz sentido. Viver estressada, triste e angustiada, não faz sentido.
Me lembro de ter uma conversa no final do ano passado, as vésperas de férias planejadas por meses, 20 dias pela Europa. Eu estava tão absurdamente cansada que não queria férias, não queria fazer turismo, não queria nada ... A minha preocupação era: será que vou conseguir curtir alguma coisa? Imagina a situação de esgotamento. Só percebi isso agora. Definitivamente, não faz sentido.  
Nunca olhei tanto o horizonte, nunca olhei tanto pela janela. Sei que sou privilegiada por poder trabalhar em casa, tenho trabalhado muito, mas estou em casa. Sair de casa passou a ser um evento, a gente estranha a rua. Estranha até coisas antes banais: colocar roupa para sair, sapato de salto, maquiagem. Parece que desaprendeu como era a antiga rotina. A nova rotina parece fácil e difícil ao mesmo tempo. A nova rotina traz desafios e aconchegos. Como tudo. Mas parece fazer sentido.
Ontem, na meditação que adotei diariamente, o Tadashi disse que é muito grato ao coronavírus, que se não fosse a pandemia, não teria conhecido e meditado com mais de 40.000 mil pessoas. Ele disse que estava precisando dessa pausa, e percebi que eu também. Percebi que a gratidão é algo muito mais especial que a palavra da moda. E para não esquecer fiz uma lista de tudo que sou grata, bom ou ruim, que a pandemia me trouxe. Tudo ensina. E enquanto isso, a natureza segue majestosamente alheia. Ainda bem.

domingo, 31 de maio de 2020

Então, estamos quites.



Logo no início da pandemia, eu estava na farmácia com meu filho. Do meu lado, uma família: mãe, filha adolescente e irmão mais novo. Acho que o menino tinha uns 9 anos. Ele, com voz alta e gestos rápidos, tentava convencer a mãe a comprar um máscara para ele. A mãe distraída não ouviu o apelo. Ele pegou a máscara que estava no balcão, e colocou na cesta de produtos que a irmã carregava. A mãe tirou a máscara e disse algo que não pude ouvir. Foram para o caixa. Eu fiquei olhando a cena, podia ouvir a respiração ofegante do menino, queria ajudar. Vi que ele estava com medo, eu também estava. Mas não consegui fazer nada.
Tenho uma caixa do livro Dicionário Ilustrado de Sentimentos no carro, quis correr para pegar um livro e dar para ele, talvez o ajudasse a entender o que estava sentindo. Talvez ajudasse a mãe a ajudar o menino. Mas não tive coragem desse gesto. Fiquei com receio da reação da mãe. Não deveria, mas fiquei e me arrependo. Penso sempre nesse menino, e torço para que ele esteja bem.
Sim, ando reflexiva. Mas acho que isso não é algo que só ocorre comigo. Talvez o mundo esteja refletindo. Acredito de verdade que o mundo está mudando para melhor. Que a adversidade está ensinando um novo modo de ser e agir. Acredito porque sou otimista. Mas acho que acredito nisso também porque comigo está sendo assim. E temos essa mania estranha de achar que o que acontece com a gente pode estar acontecendo com o outro.  Será?
Na tentativa de assistir alguma live essa semana – como assim que vou passar a quarentena sem assistir uma live ou fazer um curso? – consegui navegar por várias, nessa frenética tentativa de ver tudo, sem realmente ver nada. Mas uma vontade ficou ao ver o que as pessoas estão fazendo: preciso oferecer o meu melhor para o Mundo.  E se não bastasse a vontade, tem aquela voz que fala comigo quando medito. Sim, ouço vozes. Já que estamos aqui fazendo confissões.
A voz diz muitas coisas. Na verdade é uma voz que conhece pouco a palavra silêncio. Ela diz que posso ajudar as crianças. Ela diz que devo ajudar. Ela fala sobre sentimentos. E, sobretudo me manda falar sobre sentimentos com as crianças.  
E acho que desde a cena da farmácia estou gestando esse projeto que a voz insiste em me lembrar. Pelo menino da farmácia e por tantos meninos e meninas que precisam entender o que estão sentindo. Assim posso tentar dar o meu melhor, sou das palavras e são palavras que tenho para dar.
Ontem dei o primeiro passo concreto em direção a isso. É assim que um caminho se faz não é? Passo a passo.
Então, voz, estamos quites?

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Quem você está ouvindo nessa pandemia?




Alienei. Parei de ver notícias na televisão. Não estava me fazendo bem. Depois de um dia louco de trabalho, a última coisa que quero ver é o número crescente de óbitos ou ainda as insanidades daquele que não deve ser nominado. Então, optei por não ver mais noticiários.  
Cada vez mais, acho que temos a obrigação de buscar coisas que nos façam bem. Se não cuidarmos de nós mesmo, quem cuidará? Parece pensamento de autoajuda, e é mesmo. E daí?
Em tempo de pandemia, o julgamento dos outros interessa menos. Ou deveria interessar. O isolamento tem me feito olhar para dentro. Lamentar menos e buscar mais sentido na vida. Se é o que temos para o momento, como fazer que seja o melhor possível? No meu caso, com um pouco de alienação externa, mas muita conexão interna.
Pelo que estou entendendo, vivemos muito mais uma “doença crônica” do que “crise aguda”. Não sou especialista em isolamento social, mas me parece que em alguns lugares, como Curitiba, está dando certo. Mas dar certo, faz com que o pico da curva demore mais a chegar. O sucesso tem consequências, como tudo nessa vida.
O momento pede paciência, e diz um ditado que gosto: “a recompensa da paciência, é a própria paciência”. Tenho aprendido a respirar mais. Estou meditando todos os dias (as 6 horas da manhã e às 20h, com o @tatadashikadomoto). Aprendi a olhar pela janela e ver além do horizonte. E, ontem, aprendi algo bem importante: a ouvir meu coração e meu corpo.
Era final de semana de pós-graduação, que tem sido online, “fui” para aula no sábado, no final do dia estava exausta. Meu corpo gritava: descanso! E minha cabeça dizia: tem que ver a aula, depois terá que repor, você consegue. E minha alma gritou: descanso!!
Em outros tempos, a cabeça seria vitoriosa, mas em tempos de conexão comigo mesma, coração e alma foram ouvidos. Não “fui” para aula. E tive um excelente dia de quase “dolce far niente”.
E você, está ouvindo quem??

domingo, 10 de maio de 2020

Será que é assim que uma revolução começa?


Lembro-me que passei uma semana esperando minha menstruação descer, em nenhum momento imaginei que pudesse ser gravidez. Mas depois de 7 dias, será? Ainda incrédula, comprei o teste na farmácia. Não contei para ninguém. Domingo de manhã, Dia das Mães com minha mãe me visitando em Curitiba. A minha irmã, há 15 dias havia anunciado gravidez. Lógico que estou imaginando, pensei. Atrasou por sugestionamento. Escondi o teste na bolsa e fui ao banheiro. Meu coração batia enlouquecido, ele já sabia, lógico. Coração sempre sabe. Sabe de tudo.
Positivo! Meu primeiro Dia das Mães se confirmou.
Chamei minha mãe, segredo só é bom quando a gente conta para alguém.
*16 anos depois*
Dia das mães em época de Covid-19. Tudo em nesta pandemia parece ter gosto diferente. Existe, lá fora, uma realidade alterada, meio surreal até.
Uma das datas de varejo mais importantes para o comércio, reinventada. Novos jeitos de demonstrar amor. Menos material, talvez. Afeto de mil maneiras novas, é assim o amor, sempre dá seu jeito. E se tem mãe envolvida na história, tudo parece mais fácil e possível. Todo mundo gosta de ganhar presente, mas, dessa vez, o que todos mais queriam era a presença. E de algum forma, aconteceu.
Passe os olhos pelas redes sociais, é amor que se diz? É amor que se vê! 
Esse 10 de Maio de 2020 jamais será esquecido. Será que é assim que toda transformação começa? Será assim que uma revolução é feita? O coração, enquanto escrevo, bate enlouquecido. Ele sabe a resposta. Ele sempre sabe. Que pena que a gente ouça tão pouco o que ele tem a dizer.
Que venham tempos novos, reinventados, revisitados, repensados, reconectados, reparados, reutilizados, relidos, refeitos, reinaugurados. Enfim, a revolução está ai...
Feliz e abençoado Dia das Mães.