sábado, 27 de março de 2010

Em outro mundo.

Eu ia comprar um touro.
Me disseram para não comprar.
Perguntei o porquê.
- Porque a mãe dele é uma .... vaca!
E uma vaca de livro aberto.*

Veja bem!


nota explicativa:
Livro fechado quer dizer que o animal tem pai e mãe conhecidos.
Livro aberto é exatamente o contrário.
O diólogo é real (ou surreal).

quinta-feira, 25 de março de 2010

Lendas Familiares

       Desde que eu sou pequena ouço meu pai contar a história de uma vaca verde que mora na fazenda. É muito difícil de encontrá-la, ela se mimetiza com o pasto, só é possível achá-la na época da seca, quando o pasto deixa de ser verde.
        Com o tempo outras características da vaca foram reveladas. Ela tem oito patas. Isso mesmo, oito patas! Quando se cansa, cruza as quatro patas cansadas e usa as outras quatro. Meu pai contava e eu acreditava. Ouvi meu pai contando a mesma história pro meu filho e vi, incrédula, ele acreditando, como eu acreditei.
        O mais engraçado de toda a história era a pergunta final.
        - Adivinha que cor é o leite da vaca verde?
        Depois de tantas informações fantásticas, lógico que sempre arriscávamos cores diferentes, afinal não era uma vaca comum. Meu pai ria, e perguntava:
        - Que cor é o leite da vaca preta?
        - Branco, ué!
        - Porque da vaca verde haveria de ser diferente???
        - Boa pergunta!

terça-feira, 23 de março de 2010

O Fazedor de Bolhas

      Todos os dias, exatamente na mesma hora, ele parava o que estava fazendo, ia até o armário, pegava alguma coisa que eu não conseguia ver o que era e saia da sala. Não demorava muito para voltar com um sorriso no rosto. No dia seguinte o mesmo ritual. Eu fiquei curiosa, mas não quis perguntar. Um dia ele voltou comentando que era muito fácil deixar uma criança feliz. Levando-se em consideração que trabalhávamos em um hospital, achei o comentário no mínimo curioso. Fiquei ainda mais intrigada.
      Alguns dias depois ele me convidou para ir com ele. - Venha ver como é fácil fazer uma criança feliz.
      As crianças, naquele horário, estavam sempre reunidas no mesmo local no térreo, nós estávamos no andar logo acima em uma espécie de balcão que dava vista para elas. Ele de cima fazia bolhas de sabão que flutuavam até elas, as crianças sorriam tentado pegá-las. Poucas olhavam para ver de onde as bolhas estavam vindo, acho que para as crianças era como mágica. As bolhinhas apareciam do céu para alegrá-las.
       Fiquei encantada com a gentileza do gesto diário, mais encantada ainda em ver que ele tinha razão, bastava disposição e bolhas de sabão para fazer uma criança sorrir, mesmo dentro de um hospital.
       O fazedor de bolhas começou despretensiosamente com um trabalho fundamental. Ontem ao entrar na nova sala do setor no Hospital Pequeno Príncipe não pude deixar de me lembrar daqueles dias de bolha de sabão e me emocionar com o que vi. Ele sempre sonhou, mas nunca sonhou sozinho. Sai de lá com os olhos marejados.

"Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto, é realidade"

domingo, 21 de março de 2010

Ele e sua dama.

        
        Eu mal podia tirar meus olhos dele, por onde ia, lá iam meus olhos seguindo-o. Ele e sua dama deslizando pelo salão roubaram toda a cena. Mesmo cansado, não perdia a linha. Ele não era exatamente um modelo de beleza, cabelos brancos e ralos, barriga saliente, cinto e sapatos brancos combinando. Entre uma música e outra tirava do bolso da camisa um pente e ajeitava os cabelos, aproveitava para fechar o botão da camisa que insistia em abrir. Mesmo assim era de uma elegância única.
        Sorria o tempo todo enquanto dançava e não tirava os olhos da sua senhora que sorria de volta. Ele a conduzia, como só os senhores criados em outros tempos sabem fazer. Ela se deixava conduzir, como só as senhoras criadas em outros tempos são capazes de fazer. E a dança deles era tão harmoniosa que parecia que eles não faziam outra coisa na vida.
        Fiquei tão encantada que quase bati palmas. Tive vontade de ir falar com eles, tive vontade de dar parabéns e dizer que eu havia achado lindo eles dançando. Mas acabei não fazendo. Não bati palmas, não disse nada, além do meu olhar de admiração, nada fiz. Depois fiquei pensando que eles jamais saberão como me inspiraram, como me fizeram suspirar. Uma pena. Da próxima vez, quem sabe ...

sábado, 20 de março de 2010

O nosso QA de cada dia.

        Esses dias uma pessoa comentou sobre Quoeficiente de Adversidade, pelo que ela disse lidamos em média com 25 adversidades por dia. Quem sabe lidar melhor com as adversidades, ou com as frustrações, é melhor sucedido, consegue fazer o dia render e ser mais produtivo, ou seja, tem um QA alto.
        Fiquei pensando nisso... se são, em média, 16 horas que passamos acordados, temos que lidar com 1,5 adversidade por hora, se considerarmos que até dormindo lidamos com dificuldades (calor, pesadelos, pernilongos, travesseiro alto, cobertor que cai) a divisão fica ainda melhor, quase um probleminha a cada 60 minutos. Não me pareceu algo muito difícil de fazer.
        Lógico que isso depende do tamanho da adversidade, tem as bem grandes que uma só vale por 25 e tem também os dias que parecem que as dificuldades de um mês inteiro resolvem aparecer, 750 em um dia é coisa para ca.. ramba. Em um ano lidamos com mais de 9.000, por isso que temos a sensação que não fazemos outra coisa a não ser lidar com problemas, mas o fato é que fazemos sim, um milhão de outras coisas. Ainda bem!
         Um amigo me ensinou algo que tento usar na minha vida, é um pensamento simples, mas acho que se encaixa perfeitamente nesse lance de QA.

Se o problema tem solução, para que se preocupar?
Se não tem solução, para que se preocupar?


quinta-feira, 18 de março de 2010

Festival de Curitiba e as palavras que ficam.

        
         Essa semana eu fui à cerimônia de abertura do Festival de Curitiba na Ópera de Arame. O diretor do Festival, Leandro Knopfholz, falou sobre a primeira edição do Festival que aconteceu em março de 1992, ocasião em que a mesma Ópera de Arame foi inaugurada. A peça de abertura foi Sonho de Uma Noite de Verão de Shakespeare, na memorável montagem de Cacá Rosset. E eu estava lá.
         Foi uma das peças mais bonitas que eu já vi na minha vida. A Ópera de Arame ainda não estava totalmente terminada, só havia a estrutura de ferro sem os vidros, isso dava para a platéia a sensação de estar realmente no bosque Titânia, Oberon, Teseu e Hipólita, com elfos e fadas ao nosso redor.
          O discurso dele imediatamente me transportou para aquela noite de março, e de novo me senti no bosque de Shakespare. Me encanta a idéia de algo que foi escrito há mais de 400 anos ainda seja capaz de emocionar, tocar, transportar ... Por isso eu amo as palavras, através delas, pode-se ficar.

terça-feira, 16 de março de 2010

Aprendendo sempre.

        No meio de uma discussão disse para meu filho que eu sabia mais do que ele. E ele, em meio a lágrimas, me pediu desculpas e falou engasgado: - Tá certo, mãe, você sabe mais do que eu. E não devia ter "fazido" isso. Na hora me senti cheia de razão, achando que tinha ensinado uma lição importante para meu filho.
        Lógico que eu estava enganada. Eu não sei mais do que ele, nós só sabemos coisas diferentes. Como que eu posso fazer meu filho acreditar que eu sei mais que ele? Imediatamente as vozes começaram a surgir na minha cabeça, vozes antigas, frases ditas e repetidas tantas vezes que passamos a acreditar nelas. Não poderia fazer o mesmo com meu filho, porque seria a mesma coisa que mentir para ele.
        Fiquei pensando nas teorias psicológicas de como criar um filho e tantas idéias preconcebidas. No fim, cheguei à conclusão que a única coisa que sei é que criar filho não é uma tarefa fácil, requer intuição, tato e muita humildade para aprender sempre. Ainda não falei para ele que eu não sei mais que ele, mas vou falar.

Estava aqui escrevendo esse post quando ele me chamou.

- Mãe, vem aqui um pouquinho.
- O que foi filho?
- Você precisa vir aqui.
- Estou indo.
-Foi sem querer, mãe, foi sem querer...
- O que você fez?
- Só uma artinha...

[vivo aprendendo com ele ... por exemplo, a definição de arte]

sábado, 13 de março de 2010

Faz de conta e conta!

Algumas meninas gostam de boneca, de pular amarelinha e de brincar de faz de conta. Ela prefere as palavras. Adora dicionários – grandes e sabidos.
A mãe se preocupa:
- Menina, vá brincar lá fora!
Ela, tão nova, já sabe que existem livros pra sol e pra lua, livros pra dia e pra noite, até livros pra chuva. Conhece seus humores, sabores e amores.
Meticulosamente com o dedo indicador passeando por suas capas escolhe um. O livro brilha.
Ela grita:
- Pronto, mãe, já trouxe o sol pra dentro.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Abrindo as portas de casa

Escrever é algo sagrado pra mim e poder compartilhar as palavras é uma forma boa de estar no mundo e de fazer parte dele.
Esse é uma espaço para minhas idéias, para contar histórias, inventar teorias, compartilhar olhares, sabores, cores, dores, flores e amores.
É no meio das palavras que me acho toda vez que me perco e não consigo pensar em lugar melhor para me perder de novo. É também no meio das palavras onde me sinto mais em casa, mais feliz, mais eu mesma. E assumir isso é uma forma de atravessar a ponte em direção a pessoa que quero ser.
Obrigada pela visita, obrigada por compartilhar comigo esse dia.

Fernanda

quinta-feira, 4 de março de 2010

O Fino do Brega

Esse lance de raízes é um troço muito sério, não dá para negá-las, elas fazem parte de quem somos, do que há de mais genuíno na pessoa que nos tornamos. Minha raízes estão bem fincadas lá no Mato Grosso do Sul, e de alguma forma que só mesmo a genética explicaria, meu filho, que bem curitibano é, ama música sertaneja. Eu ouvindo Chico Buarque e ele cantando Victor e Leo. Mas de onde meu filho tirou esse gosto musical? De onde, meu Deus? Ultimamente basta fazer uma perguntinha básica pro Universo, que ele vem e esfrega a resposta na minha cara.
Bom, estava eu bem tranqüila no meu carro, quando de repente, sem nenhum aviso, eis que surge Chitãozinho e Chororó cantando Brincar de Ser Feliz.  Para o meu espanto, eu sabia a música  t.o.d.a e cantei bem alto, fazendo coro no refrão.
Me lembrei de umas férias de julho, século passado, íamos quase todos os dias à cachaçaria para tomar algumas Providências. Imagino que tenha sido fim de noite, depois de muitas Providências que eu aprendi a cantar como é que eu posso me livrar das garras desse amor gostoso ...
Se na época eu soubesse que isso resultaria em um DNA que seria transmitido para meu filho ... ah! se eu soubesse ... faria tudo de novo ...

terça-feira, 2 de março de 2010

O Batizado

Fevereiro de 1991
Começo das aulas na faculdade, eu tinha acabado de me mudar para Curitiba. Parei na porta da sala, não conhecia ninguém. Escolhi um cantinho no fundo, na minha frente estava sentado uma menina que parecia conhecer algumas pessoas. Pensei que deveria ser bom conhecer alguém no primeiro dia de aula. Até hoje acho que ela leu meus pensamentos, porque olhou para trás e disse oi, meu nome é Sil. Ficamos amigas na hora.

Fevereiro de 2010
Recebi o convite para ser madrinha do filho da minha primeira amiga de Curitiba. E além da minha amiga, agora eu tenho um grande amigo e compadre. E o afilhado mais lindo do mundo. Uma honra sem tamanho.

O Batizado
Não poderia ter sido mais perfeito. A igreja escolhida foi em Florianópolis, com uma maravilhosa vista para a lagoa. Ficamos hospedados na Hotel Butique Quinta das Videiras, do irmão do compadre. Lugar muito especial, cheia de mimos e super diferenciada. O hotel conservou as videiras originais, plantadas na década de 70, pelos antigos proprietários. A uva é deliciosa e ficar sentada debaixo da videira, jogando conversa fora é quase uma bênção. Vale a pena conhecer.