Há alguns anos, eu trabalhava em uma agência de marketing
direto na área de atendimento. Apesar de gostar do que eu fazia e adorar meus
colegas/amigos de trabalho, eu tinha uma grande
insatisfação dentro de mim. Minha alma sentia falta de fazer algo que pudesse
ajudar o Mundo a ser um lugar melhor.
Como não sou uma pessoa rápida para tomar decisões, passei
alguns meses infernizando meus colegas. Até que tudo fez sentido. Lembro-me do exato momento em que tomei a decisão de
pedir demissão. Eu não sabia o que eu
queria fazer, mas eu tinha total convicção que eu não queria mais fazer aquilo.
Como eu estava desempregada, sem saber o que fazer, comecei a pesquisar, ler, conversar com as pessoas, e finalmente, achei algo que fez meu
coração acelerar: marketing cultural. Graças a vários acasos lindos do
destino, lá fui eu fazer a produção local do Natal do HSBC. E
por meio do marketing cultural, conheci o marketing social e me apaixonei.
Naquela época, há mais de 10 anos, não sei como é hoje, as crianças que cantavam nas
janelas eram crianças de lares e projetos de Curitiba, algumas afastadas dos
pais por medidas de segurança. Crianças carentes – não apenas de bens
materiais, mas de atenção, carinho, oportunidades. Com a convivência de meses,
por causa dos ensaios, passei a conhecê-las. Eram 140 crianças, conhecia a
maioria pelo nome. Algumas, as mais falantes, conhecia além do nome, a história
de vida.
Após duas apresentações em que tudo correu bem, pude
assistir, como expectadora, ao espetáculo. E ao olhar para a janela e reconhecer
cada rostinho e suas respectivas histórias de vida, não me contive e comecei a
chorar. Naquele momento, percebi que meu trabalho havia, direta ou
indiretamente, impactado a vida daquelas crianças. Imagina o que receber
atenção, educação musical, oportunidades, aplausos e carinho, fazia à
autoestima daquelas crianças!
Foi aí que entendi que poderia tocar a vida das pessoas com
o meu trabalho. Mas o senso de responsabilidade que tocar a vidas das pessoas
tem, só percebi alguns dias depois, na última apresentação. O clima estava
ótimo, o sentimento de dever cumprido, as despedidas carinhosas, recebi bilhetes
e cartinhas das crianças; na maioria, crianças que eu conhecia mais, aquelas
mais falantes.
Até que um menino que eu nunca havia conversado, daqueles meninos quietinhos que parecem pedir desculpas por estar ali no mundo,
sabe? Este menino se aproximou de mim, e
timidamente, me entregou um cartão. Em seguida, sumiu no meio das outras
crianças.
Mantenho até hoje o cartão comigo, como um lembrete. Um
amuleto, talvez. Algo que me faz refletir sobre a responsabilidade que temos no
mundo. Mesmo sem perceber, podemos tocar a vida de alguém, mesmo sem
intenção. Percebi o poder que isso tem,
e como todo poder, traz muita responsabilidade.
O singelo cartão, escrito a lápis, me comove até hoje. Não tive a oportunidade de agradecê-lo.
Querido Rogério, de onde você estiver, receba meu carinho e retribuição por um
gesto tão lindo! Muito obrigada, você, mesmo sem saber, me ensinou muito.