segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Rua Odorico Quadros, 280.

Vivi dos 3 aos 22 anos na mesma casa. A casa da Odorico Quadros.
Mesmo há muitos anos longe de Campo Grande e mais ainda dessa casa, ela é ainda uma referência muito forte. Não é apego ao passado. Acho que é mais um apego ao simbolo de lar.
A casa foi vendida, se transformou em uma clínica de fisioterapia. Não foi feliz. Não era sua vocação.
Atualmente se transformou em um restaurante. E como pude constatar, está muito feliz.

A visita não foi fácil, demorei para ir conhecer o novo restaurante. Enfim, em um das minhas vindas a Campo Grande, tomei coragem e fomos.

A entrada permanece igual. As mesmas plantas, o mesmo paralelepipido, caminho que fiz durante anos  ... chegar em casa, estar em casa ... era o que o caminho significava.

Na porta (a mesma porta de madeira maciça) a gerente deu as boas vindas.

- Boa noite, já conhecem a casa?

[Ela poderia ter dito qualquer outra coisa. Já conhecem o restaurante? Mesa para quatro? Preferem na varanda ou no salão? Esperam mais alguém? Mas não, ela disse: - Conhecem a casa? A c.a.s.a.?? Vejam bem, foi a minha casa durante anos. Minha casa!!!!]

Silêncio. Um silêncio constrangedor pairou no ar. Quatro pares de olhos encaravam a mulher, que não entendia nada. Graças a Deus alguém disse que já conhecíamos, entramos, escolhemos o salão de dentro (era a sala de visitas ... ai se ela sala falasse...melhor deixa...)

Pedimos um vinho e acho que só voltei a respirar depois do primeiro gole. Eu estava cautelosa, parece engraçado agora, mas na hora, a cena teve uma carga dramática digna de cinema europeu.

Pedi para conhecer a casa, o mais correto seria (re)conhecer a casa, mas fiquei com preguiça de explicar para a gentil gerente toda essa história.

Andei pelo corredor que conduzia aos quartos, agora com mesas, uma decoração linda, tudo de muito bom gosto. Passei pelo quarto que foi do meu irmão. Voltei ao corredor. Dei mais alguns passos e entrei no meu quarto. Um milhão de recordações.

Fui até a varanda. A minha pitangueira!!! A pitangueira que eu plantei ainda está lá!! A mãe de todas!

Voltei chorando para mesa, não consegui manter o olhar blasé e nem o discurso budista de desapego.

Fui salva pelo vinho. Outra garrafa. Amém, Baco!!

Sai de lá feliz. A casa está feliz, realizando sua vocação de reunir pessoas, com bom papo, boa comida, boas bebidas e boa música.

Quem frequentou a Odorico Quadros, 280 sabe do que estou falando.


(video youtube - Trattoria Zafferano)

3 comentários:

luizinho disse...

eu passei por fico feliz da casa estar feliz...

luizinho

Anônimo disse...

Nandinha, memorias: este eh o maravilhoso livro na nossa vida ! Acontecimentos, lugares, servem de referencia na vida e faz a gente "crescer"... Ainda bem que bons momentos ficam bem gravados! Fico feliz da sua "casa" estar feliz, como você ficou! Quero conhecer (re)conhecer quando for ai! Bjao

aline e edmar disse...

Muito lindo o texto, como sempre. E novamente me emocionei. Ano passado, fiquei emocionada achando que era por ainda estar naquela vibe da maternidade recém-chegada. Que nada, fiquei novamente bastante tocada. Recordações lindas, que compartilho contigo. Bjs! Aline