sábado, 27 de junho de 2015

Love wins


Ela, ali, estancada, no meio da sala, com as mãos bem guardadas no bolso e o coração contido pelo casaco abotoado, perguntava a si mesma, se o tecido era realmente capaz de conter o som, não de um coração, mas de infinitos corações que insistiam em bater todos ao mesmo tempo, fazendo com que manter uma conversa fluindo fosse um trabalho árduo. Some a isso a necessidade de permanecer com as mãos fincadas no bolso para garantir que elas, como borboletas, ao identificar a luz dos vagalumes que brilhavam a sua frente, não saíssem em revoada de encontro a eles. Mais de uma vez, ela precisou desviar os olhos, para retomar o fôlego. E foi por muito pouco que não sucumbiu em um desses momentos, que em busca de ar, respirou o cheiro que vinha dele. Do discurso, mil vezes ensaiado, poucos linhas foram ditas, deixou algumas palavras por escrito, mas delas lembra pouco, não quis reler, por receio de perder a coragem. Em determinado momento, empolgada pelo cheiro inebriante do carvalho, e do aguardente que evapora, se distraiu, e as borboletas escaparam do seu bolso, dançando no ritmo da história que escapava da sua boca, enquanto não apenas duas folhas, mas um bosque inteiro surgia a sua frente. E ela, ali, estancada, no meio da sala, tentando em vão ouvir, falar, sentir e caminhar, não foi capaz de dar dois passos, limitou-se a gentilmente guardar as mãos no bolso. Na despedida, voltou, ele não viu, mas no segundo em que se aproximou para deixar um beijo, ela fechou os olhos e aspirou bem fundo para guardar o cheiro. E o que ela ganhou com tudo isso?  Ah, ela ganhou a chuva e o sol.

*foto de Ihotim do facebook - por causa da foto descobri que Inhotim tem um Jardim de Letras - mais do que nunca, preciso conhecer esse lugar. 

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