Faço
parte de uma geração privilegiada. Assistia a Monteiro Lobato no
Sitio do Pica-pau Amarelo ao chegar da escola. Lembro-me de um álbum, vinil,
versão do Mauricio de Souza para Romeu e Julieta, ou seja, Shakespeare com os
personagens queridos da infância. Não posso deixar de mencionar A
Arca de Noé. Vinicius, Toquinho, João Gilberto e, lógico, Chico Buarque.
Sei
que só tive acesso a tudo isso, porque tenho uma família especial, pais que
sempre incentivaram a leitura e a cultura. E o que tudo isso tem a ver com o
momento familiar que estou vivendo? Com a recuperação do meu pai? E com o poder
que a família tem?
Tudo.
Quando
éramos pequenos, eu, meus irmãos e meus pais, gravamos uma versão familiar dos
Saltimbancos, do Chico Buarque. Para cada membro da família, coube um
personagem. Meu pai era o Jumento, minha irmã, a Gata. Eu, a Galinha. Meu
irmão, com apenas dois ou três anos, auxiliado por minha mãe, era o cachorro. E
cabia a ele dizer: au au au au au. A gravação foi feita em uma fita cassete,
infelizmente, perdida.
Hoje
percebo que foi lá, naquelas noites musicais, que aprendi que Todos Juntos
Somos Fortes! Ontem, ao chegar a Campo Grande com minha irmã, com a intenção de
dar uma força e ficar mais perto da família, entendi a música. Entendi a lição
iniciada há tantos anos. Desde que tudo isso começou, cada membro da família
vem desempenhando um papel, papéis diferentes e complementares. Cada um com sua
personalidade. Cada um com sua função, trazendo para recuperação do meu pai
mais força.
Como
diz na música:
“Todos
juntos somos fortes
Somos
flecha e somos arco
Todos
nós no mesmo barco
Não
há nada pra temer
-
Ao meu lado há um amigo
Que
é preciso proteger
Todos
juntos somos fortes
Não
há nada pra temer”
E
assim, vamos para mais uma fase da recuperação. E assim, ficaremos para sempre,
pois Todos Juntos Somos Fortes!
À família
querida, mãe, irmãos, cunhados, tias, tios, primos, filho, sobrinhos, enfim, todos que têm participado tão
ativamente dessa recuperação. Aos amigos de sempre, de dor e delícias. Aos
amigos que há muito não tínhamos notícias, que ligaram, escreveram,
oraram. Mostrando que amizade de verdade, independe de convivência. Amigos de
todas as religiões, de todas as crenças, e até, sem crenças, torcendo,
vibrando, desejando o bem. Uma prova de que são várias pontes, que levam a um
só lugar. A um só Deus. A uma só força. A todas essas pessoas, meu mais
profundo e verdadeiro obrigado!
A
música termina assim:
E no mundo dizem que são tantos
Saltimbancos como somos nós.
Saltimbancos
queridos, muito obrigada!