terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Nostalgia

Ando nostálgica, são pequenas lembranças que me fazem suspirar, estou relendo livros, revendo filmes, falando de memórias da infância. Talvez por tentar sentir coisas já sentidas, vontade de sentir o gosto que essas memórias deixaram em mim, acho colecionar memórias é a mais doce forma de nostalgia. Ando lembrando muito da minha casa, a casa que morei na infância e adolescência e de todas as suas árvores. Dos cajueiros que meu avô plantou que sempre foi para o meu pai uma forma de tê-lo por perto, mesmo quando ele se foi. A primeira Pitangueira que minha mãe trouxe da casa da minha bisavó, mãe de todas as outras pitangueiras - a neta ainda está na família, mora na sacada dos meus pais, no apartamento para onde eles se mudaram. Lembrei do meu pessegueiro que plantei com meu pai no dia que fiz quinze anos, uma tradição que começou com minha irmã. Meu Pessegueiro nunca foi muito feliz lá, faltava a ele uma companheira. Plantamos a companheira, a união deu um fruto, que foi enviado pelo correio para mim. Meu pai plantou um coqueiro anão, que em alguns anos se transformou em um gigante. E a limonada (hoje seria chamada de orgânica), cada dia com uma espécie de limão, tínhamos três espécies. Ah! a fruta do conde, doce feito mel... Percebo como a nostalgia pode ter gosto de salada de frutas ...

Minha casa tinha árvores,
Onde cantavam os sabiás;

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Escolha um caminho.

Sábado de manhã, meu carro na revisão. Chamei um táxi, expliquei onde queria ir.
- Você quer ir por qual caminho?
- O sr é o especialista.
-  É melhor você mesma escolher o caminho.
- Ah! Sei lá, eu nunca sei como chegar lá, sempre me perco, não tenho senso de direção, nem sei qual é direita e esquerda  .... e além do mais, esse lance de escolher caminho é sempre complicado para mim, aliás, escolher é mesmo complicado, e ainda mais um caminho, assim de bate pronto, sem ter pensado, ponderado, esmiuçado .... 
- Olha, pra facilitar, te dou duas opções e você escolhe uma. Pode ser?
- Eu prefiro que o Sr escolha.
- Mas, sabe como é, né? É melhor o passageiro escolher, porque se escolhe errado, não foi a gente que escolheu (!!!) - e emendou rápido - mas hoje o trânsito está bom ...
- Tá bom.
- Pode ser por aqui que é o caminho mais reto [olha ele me induzindo] ou por ali, que é pior ... Você que sabe.
- Acho que por aqui, então.
- Tem certeza???
-Não, não acho que por ali... ah! tanto faz, escolhe o Sr o caminho.
- Não, não vou escolher ...
-Tá, vamos por aqui e está decidido.

(Ele deu mil voltas, passou pelo centro em pleno sábado e eu pensando em como tinha sido induzida a escolher aquele caminho, mas um sr com cara tão boazinha, jamais faria isso deliberadamente, será? Fiquei com a sensação de que ele fez sim. Mas que papo é esse de escolha o caminho? ... Como assim? O profissional de caminho era ele ... Chegamos.)

-Tenha um bom dia e que seus caminhos sejam sempre tranquilos.
- Amém.

(o que mais eu poderia ter dito?)

domingo, 21 de fevereiro de 2010

O Bosque das Árvores Bravas


Era um bosque lindo, as copas das árvores ficavam tão unidas que só se via pequenos nuances de céu, azul, cinza, noite. Nesse bosque, quase encantado, havia espécies diferentes, eram as árvores bravas. Por três dias, passei por elas e nada disse, fiz uma pequena reverência com a cabeça, tive por elas um respeito imediato. Elas também nada disseram, limitaram a observar-me. No quarto dia, amanheceu nublado, o céu era cinza chumbo, havia no ar uma tensão, aquele tipo de tensão que precede a tempestade, como se tudo estivesse suspenso, esperando que a chuva chegasse. O silêncio pairava no ar como uma matéria densa. Passei pelas árvores em direção ao café da manhã, assim que entrei no restaurante a chuva chegou: forte, intensa, boa. E os pingos batiam nas janelas de vidro enquanto o Chico cantava ... “como hei de partir se na bagunça do seu coração meu sangue errou de veia e se perdeu ...” Meu Deus, de um bom gosto incrível! Aquela cena beirava ao mau gosto, Chuva e Chico deveriam ser proibidos ao mesmo tempo. O café da manhã foi longo, durou o tempo da chuva, a chuva que o Chico cantou. Ao sair do restaurante percebi que o silêncio se fora, a vida acontecia no Bosque das Árvores Bravas. A chuva veio e deixou uma espécie de benção no ar. Ao passar pela Pintangueira Brava ela me disse, na sua voz de árvore brava: - Escreva sobre nós, escreva para não esquecer, escreva para se lembrar, escreva.