Estou arrebatada. Acabei de assistir ao Sal da Terra, o documentário sobre Sebastião Salgado.
Há alguns anos, um amigo me apresentou ao
mundo das fotografias. Lembro-me especialmente de uma foto de Henri Cartier
Bresson: um beco, um homem e um gato. Foi divertido imaginar a história por trás
da foto. Criamos várias narrativas para esse diálogo inusitado entre homem e
gato. Discordávamos sobre o conteúdo da conversa, mas com um fato havia total
concordância: a foto contava uma história.
Lembrei da foto de Cartier quando visitei a
exposição das fotografias de Sebastião Salgado. No dia que visitei, me peguei pensando nas histórias por trás
das imagens. Como escritora, sempre acabo colocando palavras no que vejo. A luz da foto, é a letra do escritor.
Finalmente, conheci algumas histórias. As imagens ganharam palavras. Desde a primeira foto, na primeira história, meu coração já estava disparado. Lutei para conter as lágrimas. Serra Pelada. Milhares de pessoas. Milhares
de histórias.
Quanto sofrimento pode suportar os olhos e o coração de um
homem? Não sei o que me impressionou mais. As palavras, as histórias, as
imagens, a vida ou a morte. Milhares de pessoas, milhares de histórias, a
imensidão. Gênesis ao contrário. A morte mostrando que há vida. A vida
prevalecendo ao desejo da morte.
O sagrado e o profano lado a lado. A vida. A morte. O silêncio. O escuro. A luz.
Fim. Pisquei os olhos imaginando que pudesse fotografar o momento. Uma foto
capaz de contar a história de um coração que batia desesperado ...
A arte tem esse poder, porque a vida não basta.