sexta-feira, 29 de abril de 2011

A vida como ela é!

Demorei muito para escrever sobre isso ... mas percebo que entendo a medida que explico.

Era um exame de rotina, já havia passado por aquilo outras vezes, e no meio dos exames habituais o médico pediu para incluir uma ecografia da tiróide (até hoje acho que foi intuição divina). Apareceu um nódulo, fui encaminhada ao especialista que solicitou uma punção. Levando em consideração minha fobia de agulha, ouvir que se tem que fazer uma punção não é das melhores notícias.


Segue uma sucessão de medidas práticas: marcar punção, fazer punção (que foi um horror) e esperar o resultado. Confesso que estava apreensiva, mas em nenhum momento achei que pudesse ser algo além de mais uma bolinha, tenho histórico de miomas, lipomas, nódulos. Depois de duas semanas, o resultado: apesar de não apresentar características de malignidade, algumas células apresentam características de malignidade. Fiquei parada, na frente da clínica, com o papel na mão, lendo e relendo o resultado. As palavras não faziam sentido, literalmente. Mas uma sucessão de medidas práticas e mandei as lâminas para uma revisão em São Paulo.

Era dezembro, quase Natal, viajei com meu filho para Campo Grande para passar o fim de ano na casa dos meus pais, meu marido iria em seguida. No dia seguinte, meu marido ligou, a voz estava estranha, o tom mais baixo que de costume, falava pausadamente, medindo palavras. Senti um arrepio. Ele havia recebido o resultado do exame, as células tinham características malignas. Era um câncer. E estava dentro de mim.

Atendi ao telefone na sala, a televisão estava ligada, meu filho brincava com minha mãe, e eu, muda, ouvindo o que meu marido lia. Eu não sabia o que dizer, queria gritar, chorar, xingar ou rir, mas não fiz nada disso, fiquei parada, com o telefone na minha mão, muda. Olhava para frente e não via, não sei o que senti. Acho que foram tantos sentimentos e sensações em poucos segundos que nenhum ficou registrado, a não ser o caos. Caos interno.

Não lembro o que disse para minha mãe, mas me lembro do seu olhar, olhar que continham palavras que não puderam ser ditas, pois meu filho estava ali e ele nem dois anos tinha.

Eu não chorei. Aquela situação não parecia real ou era real demais, tão real que não havia tempo, nem espaço para chiliques. Só consegui chorar quatro dias depois, na noite de Natal, dois dias antes da cirurgia. O choro foi um desabafo, talvez o meu presente de Natal para mim mesma. Chorei poucas vezes durante o processo todo, mas são dos momentos de choro que me lembro, alguns rápidos, disfarçados, outros, os melhores, catárticos.

Depois da cirurgia, para a retirada da tiróide, fiquei 40 dias esperando para iniciar o tratamento, nesse período não poderia fazer a reposição hormonal, era uma preparação para fazer a iodoterapia. Em Campo Grande não havia nenhum lugar credenciado para esse tipo de tratamento, então, voltei para Curitiba.

No avião de Campo Grande para Curitiba, sentamos minha mãe, meu filho e eu. Eu estava imersa em pensamentos, um milhão de perguntas sem respostas. Muitas coisas tinham mudado em apenas 45 dias. Eu pensava nas diversas facetas dessa mudança, tantos as internas, intensas e doídas, quanto às externas, e lágrimas indiscretas começaram a rolar.

Vasculhei minha bolsa procurando óculos escuros para dar uma disfarçada, a aeromoça passou entregando o lanche, eu não quis, meu filho quis. Aproveitei que ele estava distraído com o lanche e tirei meus óculos para limpar os olhos. Meu filho percebeu que eu estava chorando, pegou o lanche dele e me deu. Ele achou que eu estava chorando porque a aeromoça não tinha me dado um. Não precisa nem dizer que eu chorei mais ainda, só que dessa vez por gratidão.

terça-feira, 12 de abril de 2011

A sabedoria em todo lugar.

Estava no carro, puta trânsito, nessas horas tenho vontade de estacionar e seguir a pé. Enfim, para não fazer isso, fiquei zapeando pelas rádios. Parei em uma entrevista. Era um instrutor de asa delta. Ele dizia: - Existem dois tipos de medo. Aquele que te impede de viver e aquele que o mantém vivo.

Opa! Gostei daquilo, aumentei o volume.

- Deixo meu aluno à vontade. Ele não precisa saltar no primeiro dia, pode só observar. Sentir o clima. Não gosto de apressar as coisas. Tem gente que pula de cara, na primeira vez, mas tem outros que precisam voltar mais vezes. Não tem problema. A montanha estará sempre lá.

Pensei: ... para alguns, as asas também.


Abra suas asas, solte suas feras....